Nos últimos anos, o consumo de carne bovina havia despencado no país
Pelo sexto mês consecutivo, o preço da carne bovina registrou queda. Segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) divulgado (11), o recuo em junho foi de 2,10%, contribuindo entre os alimentos para a deflação de 0,08% no mês.
Assim, todos os cortes bovinos que fazem parte do índice da inflação oficial tiverem redução no mês e acumulam queda de 5,89% neste ano e de 6,73% em 12 meses. Enquanto o IPCA acumula alta de 2,87% no ano e de 3,16% nos últimos 12 meses.
Portanto, a alcatra (-8,09%), o filé-mignon (-8,02%), o contrafilé (-7,92%) e a picanha (-6,52%) acumulam os maiores recuos nos primeiros seis meses deste ano.
A queda do preço de cada corte de carne
No acumulado de 2023, em %:
• carnes em geral: -5,89
• fígado: -6,51
• cupim: -2,05
• contrafilé: -7,92
• filé-mignon: -8,02
• coxão mole: -5,16
• alcatra: -8,09
• patinho: -5,10
• lagarto redondo: -4,76
• lagarto comum: -5,37
• músculo: -4,28
• pá: -7,37
• acém: -6,16
• peito: -5,63
• capa de filé: -5,43
• costela: -5,33
• picanha: -6,52
Queda da custo
O economista Matheus Peçanha, do FGV-Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), explica que a redução no custo dos produtores acabou se reflentido no bolso do consumidor. Desse modo, o cenário puxou para baixo projeções de inflação.
“De 2020 até metade do ano passado, esse custo estava jogando contra, estava encarecendo muito por conta da entrada de várias cadeias globais, com o preço de várias commodities agrícolas em alta. Aliás, isso levava a um efeito dominó nos preços dos produtos ao consumidor na gôndola”, afirma Peçanha.
No entanto, agora o que está ocorrendo é o inverso. Segundo o economista, desde o segundo semestre do ano passado esses custos caíram, principalmente o preço da soja e do milho, que são os principais componentes da ração para o gado.
“A perspectiva para o ano é continuar nessa pegada. Portanto, deve haver a redução no ritmo de queda. E isso pode se refletir no preço ao consumidor. Mas deve continuar assim, reduzindo ritmo de queda até uma estabilidade no ano”, acrescenta o economista.
Assim, o evento climático do El Niño, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico, pode ajudar neste ano a manter a redução dos custos de soja e milho. Segundo Peçanha, os efeitos desse fenômeno climático, geralmente, aumentam a produtividade no Centro-Oeste do país. Além disso, a previsão é que isso ocorra, provavelmente, no último trimestre deste ano.
“Ou seja, a gente deve ter uma estabilidade do preço da carne até o fim do ano, e, se o El Niño trouxer uma produtividade maior, pode haver uma segunda rodada de queda. Mas isso vai depender da magnitude, se vai reverter em ganho de produtividade como normalmente reverte. Então tem muitos ‘ses’, mas é um evento que está no calendário para ver o que acontece”, avalia Peçanha.
Consumo
Outro fator que contribui para a queda do preço final é a maior oferta de animais no mercado doméstico, que derrubou as cotações no campo. Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), esse cenário reflete na tendência de queda nos preços, o que já começa a ser percebido no mercado, como mostra o IPCA.
Com o crescimento da produção, o consumo de carne bovina pelos brasileiros vai aumentar em 2023, após cinco anos de queda. De acordo com a projeção da Conab, a disponibilidade per capita da proteína vai passar de 26 para 29 quilos por habitante ao ano, uma alta de 11,6%.
Sendo assim, somados os três principais tipos de proteína animal consumidos pelos brasileiros, a bovina, a suína e a de frango, esse número atingirá 96 quilos por habitante ao ano, o segundo maior índice já registrado, inferior apenas ao de 2013.
Nos últimos anos, o consumo de carne bovina havia despencado no país. Aliás, em 2018, cada brasileiro comeu, em média, 34 quilos de carne. No ano seguinte, o consumo médio foi de pouco mais de 30 quilos. Assim, em 2020 e 2021, ficou estabilizado em 27 quilos. E, no ano passado, recuou a 26 quilos por habitante no ano.
Fonte: R7