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Especialistas explicam que a planilha jogou luz e pode acelerar discussões sobre o setor, como a necessidade de profissionalização dos influenciadores. - Foto: Reprodução/ redes sociais

Planilha dos influencers, o que a polêmica mostra sobre o mercado; e o que pode mudar

Especialistas explicam que a planilha dos influencers jogou luz e pode acelerar discussões sobre o mercado, como a necessidade de profissionalização dos influenciadores

Em meados de janeiro, uma planilha sobre os influencers teve criação por profissionais da área de publicidade viralizou nas redes sociais; e isso trouxe muitas discussões sobre o mercado. Nela, havia comentários de funcionários de agências sobre como era trabalhar com influenciadores digitais.

A planilha, preenchida de forma anônima, permitia que os profissionais escrevessem o nome do influenciador com quem haviam trabalhado, atribuíssem uma nota ao criador de conteúdo e deixassem suas impressões.

Nomes de peso, como Anitta, Ivete Sangalo, Lázaro Ramos, Gil do Vigor, Jade Picon e Malu Borges, foram avaliados. Alguns receberam notas e comentários muito positivos, mas a maioria teve avaliações bem negativas e foi acusada de falta de profissionalismo, atraso nas entregas, problemas com as equipes, entre outros.

Muitos influenciadores fizeram pronunciamentos em suas redes sociais para se defender. O caso mais emblemático foi da influenciadora Malu Borges, que foi bastante criticada, mas disse que “todo feedback é válido”. Rafa Uccman reconheceu os problemas relatados na planilha e se desculpou.

Mas o que deve mudar na relação entre o mercado, empresas, agências de publicidade e influenciadores digitais, após a viralização da planilha dos influencers?

Especialistas em marketing de influência ouvidos afirmam que a planilha jogou luz a temas que já vinham sendo discutidos no mercado, como a necessidade de profissionalização dos influenciadores e de entendimento das marcas sobre quais resultados cada tipo de criador de conteúdo pode oferecer.

Para eles, embora esses temas já sejam conhecidos por quem trabalha com marketing, o fato de a planilha ter “furado a bolha” e repercutido entre o público geral — de quem os influenciadores dependem para ter boa reputação — deve acelerar a discussão dos problemas existentes no mercado.

Mercado muito imaturo

Para Mariana Munis de Farias, professora de Marketing e Comportamento do Consumidor do Mackenzie, a planilha dos influencers evidenciou “uma grande imaturidade” entre os três principais agentes envolvidos no mercado: influenciadores, marcas e agências.

Do lado de quem contrata o serviço, a professora considera que marcas e agências ainda têm dificuldade em entender que existem diferentes tipos de influenciadores, cada um gerando resultados distintos. Grandes influenciadores trazem mais reconhecimento para a marca, enquanto os pequenos geram mais conexão e vendas.

Mariana também destaca que os contratantes esperam que os influenciadores atendam às suas demandas em prazos muito curtos, sem compreender que os criadores de conteúdo têm outras obrigações com outras marcas.

“As marcas e agências não entendem os papéis e responsabilidades de um criador de conteúdo, por vezes querendo ir além do que foi combinado e sem cocriar a ação com o influenciador, sendo que ele foi contratado para humanizar o conteúdo”, conforme Munis.

“O influenciador tem sua comunidade, que ele conhece muito bem, e serve para buscar uma audiência que a marca não consegue alcançar sozinha.”

Do lado dos influenciadores, o principal problema, de acordo com a professora, é a falta de profissionalização

Muitos deles formam equipes de trabalho com membros da família, que não costumam ter o conhecimento necessário para lidar com marcas e agências.

Rafael Terra, professor de marketing digital da ESPM, destaca que a reputação dos influenciadores já era conhecida nos bastidores antes da divulgação da planilha. Os problemas com as equipes e com os próprios criadores de conteúdo já eram discutidos entre as agências.

“A planilha, ao sistematizar e expor esses dados, elevou o debate e gerou um senso coletivo de validação das percepções já existentes”, diz Terra.

Ambos os professores acreditam que a planilha, ao “furar a bolha” das agências e atingir o grande público, tem o potencial de acelerar mudanças já demandadas pelo mercado, sobretudo a profissionalização dos criadores de conteúdo.

Terra comenta que a planilha cria um histórico visível sobre a conduta dos influenciadores e estimula esses profissionais, que dependem da opinião pública, a trabalharem mais e melhor para manter uma boa reputação dentro e fora das redes sociais.

“Cada vez mais, as agências e marcas estão transformando o comportamento dos influenciadores em dados estruturados. Para os influenciadores, isso serve como um alerta: a forma como se relacionam nos bastidores é tão importante quanto a entrega de resultados”, afirma Terra.

Métricas de ‘vaidade’ ou métricas de engajamento?

Além do comportamento dos influenciadores e suas equipes, outra questão destacada na planilha e discutida nas redes sociais é o alto custo do trabalho de grandes influenciadores comparado aos resultados obtidos pelas marcas após trabalharem com eles.

Alguns relatos indicam que influenciadores com milhões de seguidores, apesar de atraírem muitas visualizações, não conseguiram converter essa audiência em vendas expressivas para as marcas.

Para Alessandra Marassi, pós-doutora em Ciências da Comunicação e professora de Publicidade e Propaganda na Faculdade Cásper Líbero, a planilha evidencia as diferenças entre as métricas que cada tipo de influenciador pode oferecer.

Segundo a professora, são dois principais tipos:

  1. Métricas de ‘vaidade’;
  2. Métricas de engajamento.

As métricas de “vaidade” são os grandes números que chamam a atenção das marcas logo de partida. O número alto de seguidores e muitas visualizações nos conteúdos são os principais exemplos.

Marassi explica que, com os grandes influenciadores, as marcas conseguem números de visualizações, que não necessariamente se convertem em vendas.

Para a professora, o problema é que as empresas, às vezes, não entendem o tipo de resultado que vão obter com campanhas focadas nesses números de “vaidade”. Números expressivos servem principalmente para fortalecer a marca no imaginário popular e torná-la mais conhecida.

Para as empresas que buscam um impacto significativo no número de vendas, a recomendação é procurar influenciadores com boas métricas de engajamento. Como, por exemplo, com seguidores fiéis que acompanham tudo e confiam nos produtos divulgados por eles.