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O pinhão vem ganhando novo status no Brasil, saindo da escala extrativista e atingindo o mercado internacional. Foto: Freepik

Pinhão começa a ganhar mercado internacional

O pinhão, semente da araucária bastante conhecida no Brasil entre outono e inverno, vem alcançando o mercado internacional

Muito consumido no Sul do Brasil durante o outono e inverno, o pinhão vem ganhando novo status no país, saindo da escala extrativista e até alcançando o mercado internacional. Com produção nacional de cerca de 13,5 mil toneladas por ano, concentrada no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O item típico de festas juninas desperta o interesse de pesquisadores, empreendedores e novos consumidores por seu valor nutricional, potencial econômico e função ambiental.

“É uma cadeia que, apesar de ser bastante antiga, agora está sendo remodelada e começa a ficar emergente”, avalia Rossana Catie Godoy, pesquisadora da Embrapa Florestas, no Paraná.

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Uma região fora do Sul do país onde a produção cresce é a Serra da Mantiqueira, em cidades como Campos do Jordão, que já começou a exportar a semente. No ano passado, produtores locais embarcaram 6 toneladas para os Estados Unidos e em 2025 já foram 12 toneladas, segundo Carlos Jobson de Sá Filho, presidente da Associação dos Empreendedores Formais e Informais de Campos do Jordão (Avepi). Responsável pelas vendas ao exterior.

O preço de venda na exportação equivale a R$ 12 o quilo, enquanto no mercado doméstico os produtores recebem entre R$ 4 e R$ 5 o quilo na safra atual

“O valor está melhor do que no ano passado”, afirma Terezinha Fátima da Silva Rosa, que há 15 anos é catadora de pinhão na região da Serra da Mantiqueira, onde os coletores podem recolher as pinhas que caem dos galhos das árvores de 40 metros de altura a partir do começo de abril.

Com a irmã Maria Raimunda Pereira, ela divide uma banca em Campos do Jordão, onde comercializa cerca de 300 latas de 10 quilos por safra. “ Além do volume que catamos na floresta, também compramos pinhão de catadores locais”, conta a agricultora, que vende o produto a R$ 15,00 por quilo.

É o caso também de Jarbas Guimarães Braga Junior, que desde 1974 é catador de pinhão na região de Campos Jordão. Com quatro barracas espalhadas na cidade, ele estima comercializar 10 toneladas este ano. Contudo, sendo metade coletada por ele e sua família e outra metade por catadores locais.

De acordo com Rossana Godoy, da Embrapa, a Serra da Mantiqueira desempenha papel estratégico no escoamento do pinhão. “É o primeiro produto que chega ao mercado, geralmente no início de abril”, explica.

A região, segundo cálculos de Sá Filho, produz cerca de 500 toneladas por ano. “Estamos organizando a cadeia e temos algumas iniciativas ligadas ao fomento e agregação de valor”, diz o presidente da Avepi, que tem 60 famílias associadas em Campos do Jordão.

Beneficiamento do pinhão

Os produtores da Serra da Mantiqueira também têm investido no beneficiamento e na industrialização do pinhão. É o caso da empresa O Pinhão, fundada por Suzana Reis em 2018. Atualmente, ela beneficia 6 toneladas de pinhão por ano, que se transformam em produto em conserva. Pinhão descascado. Cozido e congelado e em farinha de pinhão. “Nosso plano é ampliar a escala em 2026”, diz, observando que a demanda interna e externa é crescente.

Na região, a Embrapa, em parceria com a Avon, também desenvolveu o projeto “Mulheres e a Cultura do Pinhão”, no qual as participantes recebem capacitação para processar o alimento. Transformando-o em farinha e produto congelado.

Rossana Godoy diz que as pesquisas da estatal sobre pinhão viabilizam a implantação de vários projetos. Uma delas mostra que a farinha de pinhão tem boas características gastronômicas, e poderia substituir a farinha de amêndoa, com custo mais baixo. “E ela não tem glúten, entrará no mercado como farinhas especiais”, acrescenta.

De olho nessa oportunidade, uma agroindústria está sendo construída em Inácio Martins (PR), para produção de farinha sem glúten, ela conta. E em Delfim Moreira (MG), será instalada uma unidade de beneficiamento para pinhão cozido e congelado.

Colheita preservacionista

Na Serra da Mantiqueira e no Sul do Brasil, a coleta do pinhão é realizada em florestas onde predominam as araucárias, árvores de forte impacto ecológico. Todavia, nessas áreas, nem sempre é possível estimar quantas araucárias existem, diz a pesquisadora.

Há alguns anos a Embrapa iniciou a implantação de pomares de aracuária baseados em mudas enxertadas, em projetos-piloto em Campos do Jordão e em regiões produtoras do Sul. Embora ainda pequenas, essas áreas estão sendo avaliadas quanto a produtividade e resistência ao longo do tempo, abrindo caminho para o surgimento de pomares comerciais.

“Estamos animados com essa possibilidade, pois as araucárias plantadas começam a produzir a partir do quarto ano. Diferentemente das nativas, que produzem após 12 a 15 anos”, avalia Carlos Jobson de Sá Filho, da Avepi.

Por fim, além de fonte de renda para muitos coletores, a árvore é habitat e alimento de diversas espécies nativas. E atua como barreira natural na prevenção de mudanças climáticas. “É uma árvore jurássica, atravessou eras, e tudo que fizermos para mantê-la viva contribui para a saúde do ecossistema”, afirma a pesquisadora

Fonte: globo rural