O desafio dos jogos é que fiquem à altura de uma nova era de IA e excesso de dados
Os Jogos Olímpicos de Paris revelam a cada dia suas facetas. Paris é a Cidade Luz, mas, pelo que parece, não é a Cidade Água. O Rio Sena, que fica lá e é um dos mais conhecidos do mundo, é a prova de que nem tudo pode ser resolvido com chips, dados na nuvem e dinheiro. A Prefeitura de Paris já gastou 1,4 bilhão de euros, coisa de R$ 8,3 bilhões, pra tentar despoluir totalmente o rio e ainda não conseguiu. A estimativa dos especialistas é de que o problema melhorou 75%.
Mas, pra quem vai nadar em busca de medalha ali, 75 tá longe de 100. A ministra do Esporte da França até mergulhou no rio pra supostamente provar que ele tá limpo, mas a real é que o problema é de mais de um século. É proibido nadar no Sena desde 1923 e, principalmente depois que a Segunda Guerra Mundial acabou, nos anos 40, tudo piorou demais. Foi quando Paris viu as periferias se desenvolvendo e, logicamente, precisando escoar o esgoto de algum jeito.
Foi aí que vieram inúmeras ligações clandestinas de água imunda, que não raramente eram despejadas no Sena em Paris. A mesma lógica que, com o tempo, transformou, em São Paulo, o Tietê e o Pinheiros em dois depositórios de cocô a céu aberto.
Paris e os jogos
É que nunca na história houve tanta segmentação de audiência. Mas há coisas que o dinheiro comprou por lá, e não foram só os móveis de papelão da Vila Olímpica, tão sustentáveis quanto resistentes. O investimento em tecnologia foi pesadíssimo pra viabilizar os Jogos mais high tech de todos os tempos.
Tudo isso num momento desafiador tanto pra quem assiste quanto pra quem transmite a competição. É que nunca na história houve tanta segmentação de audiência, com inúmeras oportunidades de acompanhar conteúdo ao vivo e assistir exatamente àquilo que se quer.
Isso, de uma certa forma, é bom pro público que tá cheio de opções, mas pode se perder um pouco pra tentar achar onde e como assistir exatamente ao que quer. Pra quem transmite os Jogos, essa é uma questão importante, porque ficam cada vez menores as oportunidades de se reunir grandes audiências nas mesmas plataformas.
E a gente tá falando de milhares e milhares de horas de conteúdo. Sobretudo, entre gravações, bastidores e transmissões dos jogos, como disse pro site “Wired” o Yiannis Exarchos, que é CEO do serviço de transmissão de conteúdo da Olimpíada. No que depender pois da transmissão oficial, o material vai ter imagens parecidas com as de cinema e efeito Matrix. Sobretudo, com câmeras 360, que vão girar ao redor dos atletas, pegando todos os detalhes deles durante as provas, inclusive no ar.
O peso maior da tecnologia vai estar na nuvem
Com a ajuda da Intel, uma big tech que faz, por exemplo, processadores de computador, o conteúdo vai ser acontecer via online em 8k, que é a qualidade das smart TVs que a gente tem hoje em casa multiplicada por 4. Vai ser um belo teste de entrega de tanta definição pela internet.
Essa vai ser a primeira Olimpíada com uma audiência consciente de que a Inteligência Artificial Generativa é uma realidade que veio pra ficar. E além disso, a promessa é de que isso se reflita nos Jogos. A tecnologia vai facilitar e muito o cruzamento e o tratamento de dados durante as competições. Com plataformas que vão gerar, pra quem tiver assistindo, muito mais informações que antes, praticamente em tempo real.
Em paralelo a tudo isso, TikTok, Instagram e Google, por exemplo, vão ter toneladas de conteúdos especiais ao vivo, mostrando melhores momentos, quadro de medalhas e indicações de onde e quando assistir aos Jogos.
Olhando as provas em si, tem revoluções legais com a Omega, que é responsável pelos tempos das provas das Olimpíadas há quase um século. Em Paris, eles tem à disposição 1.450 profissionais, 350 toneladas de equipamentos físicos e 200 quilômetros de fios e fibra ótica. Mas o peso maior da tecnologia vai estar na nuvem.
Um exemplo muito legal vem das provas de velocidade. Vão ser tantos sensores analisando os atletas que os fiscais vão conseguir saber imediatamente se alguém começou a correr antes da largada. Isso numa precisão que nunca vista antes em nenhuma Olimpíada, com cronômetros com uma precisão de um milionésimo de segundo (é isso mesmo, eu não escrevi errado não).
Imagina a importância de ter um equipamento tão preciso numa linha de chegada nesses jogos de Paris.
A gente tá falando de uma empresa extremamente tradicional que fabrica relógios, mas, nos Jogos franceses, a Omega vai levar também câmeras absurdamente rápidas, que captam 40 mil imagens digitais por segundo. Para entender o quanto isso é superlativo, os melhores celulares de hoje tem câmeras que captam 960 imagens por segundo e olhe lá. Imagina a importância de ter um equipamento tão preciso numa linha de chegada onde a pontinha do nariz pode definir quem terminou a prova antes.
Os mesmos equipamentos vão ser úteis em vários esportes, checando com uma precisão bizarra a altura do salto dos jogadores e das jogadoras numa partida de vôlei. Assim, vai dar pra saber milimetricamente se a bolinha de tênis pingou dentro ou fora da quadra. E, até nas provas de saltos ornamentais, as câmeras vão combinar inteligência artificial e computação na nuvem pra criar modelos 3D que refletem exatamente a posição de todo o corpo do atleta quando ele sai da plataforma em direção à água. Imagina o tanto que isso vai ajudar os juízes a dar as notas?!
Esses são só alguns exemplos de tudo que tá sendo feito pra que a gente assista a uma Olimpíada que faça jus aos tempos modernos, e isso não é fácil. Nesses jogos de Paris, o fato é que, mesmo com tanta modernidade e inteligência artificial, a gente sempre vai tá diante de competições onde nenhuma tecnologia vai ser mais importante que o suor dos atletas.
Fonte: cnn