Ao crescer, ela conta que descobriu que, por muito tempo, não havia espaço para mulheres atuarem como combatentes. “Aí eu dei uma murchadinha assim.” A mudança veio quando a Marinha abriu, pela primeira vez, concurso para mulheres na carreira de fuzileiro naval.
“Por sorte, quando eu estava estudando para concurso, foi a época que abriu a primeira prova para o Fuzileiro Naval para a Mulher, e aí era meu último ano, né, por conta da idade. Então, eu não perdi a oportunidade.”
Na família, Maria Júlia é a primeira mulher militar
“Eu sou a primeira militar de sexo feminino na família, tanto por parte de mãe quanto por parte de pai.”
Treinamento intenso e superação
Sobretudo, o curso exigiu preparo físico, psicológico e operacional. Segundo a militar, os momentos mais difíceis foram as atividades aquáticas e as marchas.
“Acho que o curso foi bastante difícil, foi bastante puxado. Acho que as coisas mais difíceis para mim no curso foram as marchas e a água. A água também doeu bastante para mim no curso, tanque tático, piscina, doeu bastante.”
Durante o treinamento, ela afirma que o tratamento foi igualitário entre homens e mulheres.
“No curso, assim, no tratamento, era tudo de igual para igual. Lá não tinha essa de você é homem, você é mulher. Todo mundo era aluno.”
A decisão de raspar o cabelo
Um dos momentos marcantes foi a escolha de raspar o cabelo durante o curso. A decisão, segundo Maria Júlia, foi estratégica.
“Pensando no curso, pensando no que fui fazer lá, a melhor decisão que tinha no momento era raspar o cabelo, até porque me atrapalharia muito no curso e me diferenciaria muito dos homens.”
Além disso, ela afirma que a escolha ajudou a seguir o treinamento. “Eu optei por raspar o cabelo para não me prejudicar no curso e para ficar igual a eles.”
O reconhecimento e a placa histórica
Ela demorou a entender que estava entrando para a história do 3º Batalhão de Operações Ribeirinhas. “Quando eu percebi que estava fazendo história por ser a primeira mulher a concluir o curso, foi só no dia da formatura mesmo.”
Ao ouvir o discurso do comandante, veio a confirmação. “Ali a ficha caiu, tipo: nossa, consegui, estou me formando. Finalmente chegou o meu momento, eu consegui entrar para a história.”
A sensação de ver o nome na placa foi descrita como única. “A sensação de ser a única mulher, ter o nome na placa, foi ótima. Fazer parte da história está sendo ótimo, está sendo maravilhoso. É uma sensação inexplicável.
Inspiração para outras mulheres
Depois da formatura, Maria Júlia passou a receber mensagens de militares e civis. “Recebi muitas mensagens, não só de mulheres, mas de homens também.” Para ela, o impacto vai além da conquista individual.
“Saber que eu estou ajudando muitas meninas, mostrando que somos capazes, que é só treinar, que dá para fazer, que dá para gente chegar lá mesmo com os outros duvidando, é uma sensação inexplicável.”
Fonte: g1