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Impulsionadas por grandes indústrias como a Suzano, empresas surgiram em plena pandemia de Covid-19, durante uma crise econômica mundial

Efeito em cascata: Indústrias alavancam micro e pequenas empresas em MS

Gigantes industriais impulsionam economia no estado

Empresas como a de Lucimara da Costa Vilhalba, surgiram em plena pandemia de Covid-19, durante uma crise econômica mundial. Isso ocorreu justamente quando uma vendedora de 43 anos decidiu realizar seu sonho e abriu seu próprio negócio, em Ribas do Rio Pardo, a 97 quilômetros de Campo Grande. Precisamente, em setembro de 2020. E, dessa mesma forma surgiram outras empresas.

A empresária percebeu uma grande oportunidade ao descobrir que na cidade não havia lavanderia. Assim sendo, comprou dois ‘tanquinhos”. E assim, usou outras duas máquinas de lavar que já tinha em casa. E desse modo, abriu a “Lavanderia Rio Pardo”. Em um cômodo de sua própria residência. No entanto, a sobrinha, Fabiana, foi a grande parceira. Enquanto Lucimara se dividia entre o emprego na loja e o seu negócio. Era ela que tocava o empreendimento no dia a dia.

A companhia investe R$ 19,3 bilhões para instalar uma planta

Assim, o crescimento da “Lavanderia Rio Pardo” foi impulsionado pelo anúncio da instalação e pelo começo das obras de uma grande indústria. Uma planta de produção de celulose da Suzano. Mas não somente essa empresa, como também toda a economia da cidade.

Em maio de 2021 foi iniciada a construção da fábrica da Suzano A companhia investiu R$ 19,3 bilhões para instalar uma planta com capacidade de produção de 2,55 milhões de toneladas por ano. Uma das maiores do mundo.

A previsão é que a indústria esteja em operação em 2024. Atualmente, 4 mil pessoas trabalham no canteiro de obras da empresa. E, no primeiro semestre de 2023, no pico da construção, esse número vai chegar a 10 mil. Quando estiver produzindo, a fábrica vai empregar diretamente 3 mil colaboradores.

Instalação de grandes empresas está mudando a economia local

“Eu abri baseada unicamente no sonho mesmo. Mas, não tinha nada de informação de fábrica. Sempre quis ter meu próprio negócio. Quando a notícia da indústria chegou, ficou todo mundo assim, na expectativa, empolgado, com a perspectiva de crescer. E foi isso que aconteceu. Eu acredito muito na minha cidade. O nome da minha lavanderia, é Rio Pardo, mais riopardense impossível. Amo esse lugar e adoro viver aqui. É ótimo ver esse crescimento”, comenta.

Alavancada pelo aumento da demanda de serviços provocado pela instalação da indústria, a lavanderia de Lucimara deu um “sprint” na corrida do desenvolvimento. Em pouco mais de um ano o número de clientes cresceu tanto que ela precisou investir mais. E assim, comprou através de um financiamento, de uma linha industrial de máquinas de lavar e de secar. Para abrigar o novo maquinário teve de se mudar. Pois o seu espaço era de apenas 60 metros quadrados em sua casa. E assim, precisou ir para um imóvel de 400 metros quadrados, no centro da cidade.

O sucesso da lavanderia faz Lucimara já pensar nos próximos passos

Se antes, a lavanderia contava somente com a sobrinha de Lucimara para fazer todas as funções, atualmente já tem quatro funcionários. Todos, devidamente formalizados. Ela também precisou buscar um sócio, para auxiliá-la no gerenciamento do negócio.

O sucesso da lavanderia faz Lucimara já pensar nos próximos passos. Ainda se dividindo entre o emprego e a sua empresa. Ela planeja se dedicar totalmente ao próprio negócio. Também vai aproveitar um benefício concedido pelo município. A cessão de um terreno no distrito industrial. Sobretudo, para começar, a partir de 2023, a construção de sua sede própria.

As pessoas indicavam nossos serviços e com a vinda da fábrica isso aumentou muito

“Me surpreendi, porque chegou um momento em que eu queria muito. Mas nunca imaginei que seria nesse patamar. No começo recebemos muita ajuda. As pessoas indicavam uma para a outra os nossos serviços. Com a vinda da fábrica isso aumentou muito. Só tenho a agradecer, principalmente a minha família. E, em especial, a minha mãe, a minha maior incentivadora”, comenta a empreendedora. Completando, dessa forma, que pretende fazer capacitações oferecidas pelo Sebrae/MS nos próximos meses. Contudo, para melhorar ainda mais a gestão da lavanderia.

“Os técnicos já estiveram na lavanderia e feito um primeiro contato. Sei ser necessário ter esse suporte. Eles estão fazendo várias palestras para levar informações a outros empresários da cidade. E, assim sendo, eu estou buscando me organizar para nos próximos meses fazer uma capacitação”, conclui.

A chegada de uma “empresa âncora” a um município oferece uma série de oportunidades as micro e pequenas empresas. É o que explica o gerente da unidade de competitividade empresarial do Sebrae/MS, Rodrigo Maia. Como no caso da fábrica da Suzano, que desse modo, oportunizou a lavanderia de Lucimara, em Ribas do Rio Pardo. Ele comenta que essas chances são apresentadas em dois grandes momentos: durante a instalação da indústria e quando a fábrica já está em operação.

O município ganhou, aproximadamente mais 5 mil moradores em razão da obra

“Primeiro, as micro e pequenas empresas têm a oportunidade de atender diretamente as indústrias, com bens e serviços. Também podem ser fornecedores das empresas contratadas ou subcontratadas dessas gigantes. A terceira oportunidade é o que chamamos de ‘efeito renda’. Sendo a cadeia formada, por exemplo, por açougues, supermercados e farmácias. Bem como, por restaurantes e imobiliárias, entre outras. E assim, vão atender dos colaboradores aos gestores das outras empresas”, explica.

O prefeito de Ribas do Rio Pardo, João Alfredo Danieze (PSOL), aponta que o efeito da instalação da fábrica na cidade foi quase imediato. O município, que antes tinha 25,3 mil habitantes (estimativa de 2021 do IBGE), ganhou, aproximadamente mais 5 mil moradores em razão da obra. A arrecadação municipal também cresceu muito. Aumentando assim, a disponibilidade de recursos para investimentos em várias áreas. Como saúde, educação e assistência social, entre outras. Somente com o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (Issqn), o incremento foi de 93%, entre 2020, R$ 6,6 milhões, e 2021, 12,8 milhões.

Aproximadamente 200 novas empresas se instalaram no município

“Registramos um superavit de quase um terço do orçamento anual em 2021. O previsto era R$ 120 milhões e arrecadamos R$ 150 milhões. Neste ano também estamos percebendo isso. Já arrecadamos 50% do projetado para o ano. Sendo ainda maior do que o ano passado e chega a R$ 185 milhões. É um acréscimo significativo. E será ainda maior quando a fábrica estiver em operação. O que deve nos levar a triplicar nossa receita”.

Danieze diz que o setor produtivo, principalmente os segmentos de comércio e de serviços, está eufórico. A causa é o grande crescimento nas atividades relacionadas a hotelaria. Bem como, a gastronomia, construção civil e comércio. “Eles estão percebendo a grandiosidade disso. Mas o impacto, propriamente dito deve vir entre o fim deste ano e o começo do próximo”.

Como aponta o próprio site da prefeitura de Nova Alvorada do Sul, durante muitos anos, o município ficou conhecido como “Entroncamento”. Por conta da cidade ser um ponto de conexão entre as rodovias BR-267 e BR-163. Aliás, a chegada da indústria âncora mudou a perspectiva da cidade. O município atualmente é um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do país. O 11º no estado e a 75ª no país, entre as cidades mais ricas do agronegócio.

Com a instalação da usina o número de habitantes cresceu quase 30%

Segundo o gerente de Pessoas & Administração do Polo Sul da Atvos, Erico Baracho, a usina em operação na cidade é uma das principais unidades da companhia. Na safra passada moeu 5,5 milhões de toneladas de cana para produzir 420 milhões de litros de etanol e cogerar 385 GWh de energia elétrica. Sozinha, emprega 1,6 mil pessoas diretamente e gera ainda cerca de 4,8 mil empregos indiretos.

Com a instalação da usina, em apenas um ano, o número de habitantes cresceu quase 30%. Saltando, dessa forma, de 12,6 mil, em 2009, para 16,4 mil em 2010. Segundo informações do banco de dados da secretaria estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro). Atualmente, a população estimada pelo IBGE é de 22,9 mil pessoas.

A Semagro aponta que, comparando os dados de uma década de instalação da usina, entre 2010 e 2019, a chamada “arrecadação própria” do município, que engloba tributos como IPTU, ISS, ITBI e taxas, entre outras, cresceu 114,11%. Passando de R$ 8,8 milhões para R$ 19 milhões. No mesmo intervalo de tempo, o Produto Interno Bruto (PIB) teve um incremento de 226,3%. E foi de R$ 458,6 milhões para R$ 1,5 bilhão por ano. A quantidade de estabelecimentos comerciais pulou de 201 para 375, 86,5% a mais.