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As guerras constantes do Oriente Médio, podem vir afetar a economia do Brasil de uma forma bem drástica. Foto: Reprodução/usp/redes sociais

Guerra no Oriente Médio pode prejudicar a economia do Brasil

Especialistas ouvidos pelo g1 destacam que ataques do Irã a Israel trazem impacto imediato no preço do petróleo, com possível contaminação dos preços dos combustíveis. Dólar e inflação também podem ser pressionados.

Os conflitos no Oriente Médio vivem mais um momento de acirramento, com o ataque do Irã a Israel, e isso pode prejudicar de maneira absurda a economia do Brasil.

Depois de quase um ano dos ataques do grupo terrorista Hamas aos israelenses, e de uma guerra que devastou a Palestina, o enfrentamento vinha escalando com a entrada do grupo extremista Hezbollah — que nasceu no Líbano, é financiado pelo Irã e aliado do Hamas.

Há uma semana, Israel vem bombardeando regiões do Líbano. Nesta terça-feira, lançou uma operação terrestre “limitada” contra alvos específicos do Hezbollah. A escalada dos ataques entre os dois lados começou após explosões em série de pagers e walkie-talkies de membros do grupo. Que acusam Israel pelo ataque.

Para além da tragédia humanitária, com as mortes e a migração, que deixa milhares de desabrigados, a guerra também pode trazer sérios impactos econômicos para o mundo. Inclusive o Brasil. Por se tratar da região mais importante para a produção de petróleo.

Após o ataque do Irã, os preços do barril de petróleo no mercado internacional dispararam 5%.

As guerras no Oriente Médio, podem prejudicar a economia de petróleo e combustíveis no Brasil

Todos os especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que o maior problema para a economia brasileira com a escalada do conflito no Oriente Médio é a elevação do preço do petróleo. Contudo, a possibilidade de envolvimento de outros países na guerra sempre gera receio de uma queda ou interrupção na produção.

Helena Veronese, economista-chefe da B.Side, diz que a entrada do Irã no conflito era o maior dos riscos, tendo em vista que o país apoia o Hezbollah e é um dos maiores produtores de petróleo do mundo.

O professor Paulo Feldmann, da FIA Business School, faz um paralelo da situação com o que aconteceu durante a pandemia de Covid-19, quando as medidas de isolamento e controle da doença causaram problemas de produção e escoamento de matérias-primas essenciais para as indústrias. A saber, o que encareceu os produtos.

“Podemos ter algo parecido em relação ao petróleo e não é a primeira vez que o mundo vai se deparar com uma crise da commodity decorrente de problemas bélicos no Oriente Médio”, diz Feldmann.

No começo do conflito entre Israel e Hamas, o preço de barril de petróleo avançou bastante

No começo do conflito entre Israel e Hamas, por exemplo, logo no primeiro dia útil após os primeiros ataques o preço do barril de petróleo avançou mais de 4% nas primeiras horas do dia. Contudo, próximo ao patamar de US$ 90.

Depois da elevação desta terça-feira (1º), o preço da commodity subiu para a casa dos US$ 75. No entanto, ontem, havia fechado em US$ 71.

“Com medo de uma eventual escassez ou disrupção do transporte de combustíveis, que levariam ao aumento futuro do preço, os compradores já se antecipam e estocam petróleo, o que leva a uma subida imediata do preço.” Explica Emanuel Pessoa, especialista em Direito Internacional.

Em um cenário de manutenção dessa alta forte do petróleo, o Brasil poderia enfrentar avanços nos preços dos combustíveis, principalmente gasolina e diesel.

Dólar

Assim como acontece no mercado de commodities, os investidores também podem, por receio de uma maior escalada do conflito, migrar seus investimentos para o dólar, valorizando a moeda norte-americana. Principalmente em relação aos países emergentes.

“Apesar da elevada dívida dos Estados Unidos, o dólar ainda é considerado a moeda de reserva global, de modo que em toda crise, os investidores correm para aportar dinheiro no mercado norte-americano, retirando investimentos de países mais voláteis e arriscados, entre os quais o Brasil.” Comenta Emanuel Pessoa.

“Com isso, há uma fuga de capitais que acaba pressionando a cotação do dólar”, destaca o especialista.

Somado aos fatores de incerteza interna — sobretudo o cenário fiscal brasileiro, com dúvidas sobre a capacidade do governo de arcar com as contas públicas —, há uma corrente de pressão contra a taxa de câmbio, que já acumula alta de 12% neste ano.

Pressão inflacionária

Com combustíveis e dólar pressionados, a próxima a sofrer é a inflação. A gasolina tem um forte peso no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) inflação oficial do país. Pontua Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos.

Uma disparada persistente do petróleo acaba refletindo nos índices de preços rapidamente. Há impacto também no diesel, que é combustível para caminhões. Quando o diesel sobe, há reflexos na cadeia logística, já que o transporte rodoviário é a principal forma de escoamento de produtos no país.

Um aumento no preço do frete encarece toda a cadeia de produção. Contudo, a inflação acaba sendo repassada ao consumidor final nos valores de produtos, como alimentos e bebidas.

Andréa destaca que os preços dos combustíveis no Brasil apresentam uma defasagem porque estão mais caros do que o praticado no resto do mundo. Assim, há um espaço para a Petrobras segurar aumentos, pelo menor por um tempo, caso a guerra tome proporções maiores.

Mas Helena Veronese, da B.Side, complementa que “toda guerra tem uma característica inflacionária” porque costuma impactar a distribuição de produtos importantes para todo o mundo. “Quanto mais tempo dura a guerra, maior a pressão inflacionária”.

Seja como for, os conflitos no Oriente Médio não é bom para ninguém e vão prejudicar ainda mais a economia do Brasil, da América Latina e demais continentes.

Fonte: g1