Uma nova plataforma gratuita de inteligência artificial (IA) voltada à orientação profissional e à empregabilidade foi lançada esta semana pelo Google Cloud e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
Desenvolvida com tecnologia do Google Cloud, a ferramenta orienta a carreira de profissionais brasileiros, alinhadas às demandas atuais do mercado de trabalho.
O serviço, chamado Carreira e Empregabilidade, analisa informações fornecidas pelo próprio usuário. Como currículo, histórico de experiências profissionais ou até uma descrição verbal das atividades já desempenhadas — para identificar pontos fortes, lacunas de qualificação e possíveis caminhos de carreira.
A plataforma integra o ecossistema de inteligência artificial do Senai, batizado de Nai, e pode ser acessada pelo site https://nai.senai.br/.
Segundo o diretor-geral do Senai, Gustavo Leal, a tecnologia utiliza grandes volumes de dados e algoritmos avançados para cruzar competências individuais com as necessidades do mercado.
“Com base nesses dados, a IA avalia competências e habilidades dos usuários e recomenda capacitações que aproximam as pessoas de seus objetivos profissionais e das oportunidades de trabalho”, afirma.
A iniciativa faz parte de um convênio firmado em 2023 entre o Senai e o Google Cloud, com vigência de cinco anos.
O acordo prevê ações de transformação digital na educação básica, na Educação de Jovens e Adultos (EJA), na educação profissional e no ensino superior. Além de iniciativas de inovação e tecnologia voltadas à indústria.
Como funciona a plataforma gratuita de IA criada pelo Google e pelo Senai?
O funcionamento da plataforma começa com o envio do currículo e o preenchimento de informações básicas sobre o histórico profissional e acadêmico.
Em seguida, o usuário responde a questionários de múltipla escolha sobre aspirações, objetivos profissionais, competências técnicas e habilidades comportamentais relacionadas ao ambiente de trabalho.
A partir desse diagnóstico, o serviço de Carreira e Empregabilidade indica cursos que aproximam estudantes e trabalhadores dos perfis mais demandados pela indústria.
A plataforma correlaciona as competências mapeadas com as demandas atuais do mercado. Sinalizando, contudo, áreas em expansão e possíveis trajetórias profissionais compatíveis com o perfil do usuário.
A ferramenta também direciona o usuário para carreiras com maior probabilidade de sucesso e aponta oportunidades de vagas disponíveis no mercado, incluindo anúncios publicados no Google Jobs.
Além disso, calcula a chamada “brecha de competências e habilidades” entre o perfil atual e as aspirações profissionais. Utilizando essas informações para recomendar conteúdos personalizados de aprendizagem.
Ao final do processo, a plataforma gera um resumo executivo que fica salvo no perfil do usuário. Desse modo, reunindo as habilidades identificadas, pontos de melhoria e avanços observados.
O painel principal permite acompanhar a evolução das competências ao longo do tempo e oferece recomendações personalizadas de formação profissional e oportunidades de emprego.
Para o diretor de vendas do Google Cloud para o setor público na América Latina, Milton Burgese, a iniciativa mostra o potencial da inteligência artificial como ferramenta de impacto social.
“A IA capacita as organizações a serem mais responsivas em relação às comunidades, fornecendo dados cruciais, identificando padrões invisíveis aos humanos e simulando cenários complexos”, afirma.
O que dizem especialistas?
Apesar das facilidades oferecidas pela ferramenta, especialistas alertam que a inteligência artificial ainda tem limitações importantes.
Para a professora Luciana Morilas, especialista em trabalho da FEA-USP, o uso da inteligência artificial na orientação profissional é uma tendência irreversível. E deve se expandir para todas as etapas da vida laboral, da busca por vagas às contratações.
Ela pondera, no entanto, que a tecnologia reproduz vieses humanos e pode acabar reforçando decisões automáticas e engessadas. Especialmente quando passa a se basear em conteúdos gerados pela própria IA.
Por outro lado, Morilas avalia que, quando usada de forma consciente e supervisionada, a ferramenta pode potencializar resultados e favorecer profissionais mais preparados para utilizá-la estrategicamente.
“A inteligência artificial mimetiza o que os seres humanos fazem, mas, sem controle, ela começa a tomar decisões em cima de decisões que ela mesma já tomou, o que pode enviesar ainda mais os processos”, afirma.
Já a consultora Taís Targa, especialista em carreiras, destaca que a IA pode ajudar na análise de perfil profissional e na criação de currículos. Mas de forma mais superficial.
Segundo ela, decisões sobre rumos profissionais envolvem fatores mais profundos e subjetivos. Como motivação pessoal, momento de vida e autoconhecimento, que uma máquina não consegue captar.
“O olhar humano consegue extrair melhor as experiências do profissional e ajudá-lo a enfatizar pontos importantes em seu currículo”, afirma Targa, lembrando que entrevistas e mentorias presenciais permitem observar sinais que a IA não identifica, como expressões, entonação e reações emocionais.
Ela reforça que, embora a inteligência artificial ofereça atalhos e facilite tarefas, o ser humano continua protagonista no processo de orientação de carreira. Garantindo uma análise mais completa e empática.
Para Targa, ferramentas digitais funcionam como apoio, mas não substituem o acompanhamento de um consultor ou mentor experiente.
Fonte: g1



