Outros estudos vão ainda mais longe, alertando para problemas de autoestima e depressão
FOMO-FOLO: As mídias sociais impactam diretamente a forma como os indivíduos se veem, com a Geração Z verificando suas contas sociais até 100 vezes por dia, os pesquisadores alertaram sobre possíveis problemas de vícios. Outros estudos vão ainda mais longe, alertando para problemas de autoestima e depressão.
Assim, com o crescente uso das mídias sociais versus os crescentes índices de transtornos mentais provocados pelas mesmas, especialistas e pais têm se preocupado cada vez mais. Agora, mais do que eles, os próprios adolescentes e jovens têm percebido e sentido o mal das redes e estão de afastando e/ ou fechando suas contas. A razão? Medo, ansiedade, angústia, tristeza, solidão.
E o que era para servir de integração e entretenimento, hoje já é sinônimo de medo. É o que indicam as expressões “Fomo” e “Folo“. Que, do inglês, servem para classificar dois tipos de medo que surgem de um uso não saudável das redes sociais.
“Fomo” vem da expressão em inglês Fear of missing out, que pode ser traduzido como o medo de perder algo. Essa perda não é material necessariamente. Mas se refere às experiências que alguém pode estar perdendo enquanto não participa. Parecido com o “Fomo” é o “Folo”, que significa Fear of logging off, ou medo de se desconectar. O medo de perder algo na internet fica tão grande que a pessoa teme sair daquele ambiente.
Aliás, um estudo de 2022 sobre o tema publicado na revista Current Approaches in Psychiatry classifica o “Fomo” e o “Folo” como ansiedades. Eles compõem a parte ruim do uso das redes sociais para interações entre as pessoas. Nesse contexto, o Fomo é definido como o “desejo constante de seguir a vida dos outros pela internet e o estado de ansiedade que isso desperta”.
Geração Z – Medo de se conectar – Fomo e Folo
Além do “Fomo” e do “Folo”, há um outro efeito colateral nessa situação: o medo de se conectar. Naia Silveira, especialista de conteúdo da WGSN Brasil, uma empresa de tendências, aponta o Fear of logging on, ou medo de se conectar: “Ao mesmo tempo você tem o medo de desconectar e perder sabe se lá o que, você também tem medo de se conectar e ficar mais angustiado ao expor a coisas que você não quer”.
Especialistas apontam que esses medos podem afetar tanto os jovens quanto os adultos. Os fenômenos aparecem entre aqueles que usam descontroladamente e se viciam nas redes sociais. Há uma particularidade, porém, no caso dos mais novos. A geração dos nativos digitais, aqueles que já nasceram com a tecnologia na mão tende a ser naturalmente mais ansiosa por não pertencer a determinado grupo ou contexto.
Assim, pais, educadores e profissionais de saúde mental continuam a questionar se as redes sociais são uma influência positiva ou negativa. Especialmente porque muitos ainda são adolescentes (ou mais jovens) e estão justamente na fase de formação da identidade.
Segundo dados do estudo americano #Being13, mais da metade dos adolescentes acessam freneticamente as redes sociais porque querem ver se estão recebendo curtidas e comentários. Mais de um terço queria ver se seus amigos estavam se reunindo sem eles, 21% queriam confirmar que ninguém estava dizendo coisas ofensivas sobre eles. Embora isso possa ser um reflexo do estágio da vida, também é possível ver traços de uma geração guiada pelas mídias sociais durante a vida. Como resultado, eles rotineiramente se preocupam com o impacto de suas vidas e identidades digitais em seus relacionamentos com outras pessoas na vida real.
Mariana Ochs, coordenadora do programa de educação midiática Educamídia, explica que, como resultado, as redes sociais acabam exacerbando essa tendência: “O número de pessoas com quem se comparar e o número de atividades das quais se tem medo de não participar aumenta. Essa comparação fica muito mais extrema”. Se antes a comparação se dava com os colegas, hoje isso acontece com personalidades do mundo inteiro.
Sintomas do ‘Fomo’ e do ‘Folo’
Um problema é que a realidade que aparece nas redes sociais nem sempre é idêntica ao que aparece fora dela e mesmo eles sabendo disso, o efeito ainda é negativo. “[O ambiente digital] nos expõe às realidades fabricadas e as coisas que podemos estar perdendo artificialmente produzidas. Assim, ele também traz uma forma de funcionamento muito viciante. Essas coisas se combinam para gerar uma ansiedade de não estar inserido e de não estar pertencente”, explica Mariana.
Os sintomas do ‘Fomo’ e do ‘Folo’ Os estudos já dão conta de alguns sinais que alguém com “Fomo” ou “Folo” podem sentir. Uma revisão da literatura sobre o tema mostrou que a pessoa tem o desejo de fazer todas as atividades que aparecem nessas plataformas; ela se sente mal quando não está presente em algum evento que o seu círculo compartilhou nas redes; ela constantemente checa seu aparelho; ela se desespera quando está fora do ambiente virtual.
Com isso, a ansiedade gera resultados negativos, que incluem a perda do foco, queda da interação face a face, sono irregular, procrastinação, aumento dos níveis de estresse. “As pessoas estão se sentindo desvalorizadas e desconfortáveis quando estão offline. E com mais dificuldades de viver no offline, vão vivendo cada vez mais no online”. Aponta Clara Becker, diretora executiva das Redes Cordiais.
O remédio para esses tipos de ansiedade está no uso controlado das redes sociais o desafio do século. Nesse sentido, o processo de educação midiática aparece como uma forma de rever a relação das pessoas com a internet. Além disso, o objetivo final é trazer mais controle para o usuário e tornar o ambiente digital mais saudável: “A educação midiática vai permitir fazer uma leitura crítica das redes sociais. Inclusive sobre o papel das redes sociais na vida”, diz Clara Becker.
Momentos offline
Especificamente na contenção do “Fomo” e do “Folo” da geração Z, especialistas recomendam o controle parental das redes sociais. Saber o que os filhos estão consumindo, com quem eles estão falando e controlar o tempo de tela são estratégias importantes para evitar alguns problemas decorrentes dessa ansiedade, como a baixa autoestima e o esgotamento.
Mariana Ochs também recomenda o estabelecimento de momentos offline, em que as famílias deixem de lado o celular por um tempo: “São pactos a serem construídos nas famílias para um uso mais consciente, deliberado e saudável dos ambientes digitais, menos frenético e com mais intencionalidade”.
Apesar de cada vez mais haver a preocupação com os problemas psicológicos causados pelo uso excessivo das redes sociais, Naia Silveira encara o assunto com mais otimismo. A WGSN acredita que a preocupação e os cuidados com a saúde mental no ambiente digital vão aumentar. O que aliás, traz uma relação mais saudável entre usuários e as redes sociais. “Temos o crescimento da preocupação com saúde mental e uma tendência de relativizar o uso e de diminuir o tempo de tela”. Indica para os próximos anos.
Fontes: b9.com, estadão, universidademetodistasp