Portanto, para conhecer a nova produção e o enoturismo na região central do país, a melhor época é o inverno. Sendo assim, com pouca chuva, dias ensolarados e noites frias, os viajantes podem aproveitar a beleza natural das trilhas e cachoeiras em segurança, observar o céu cheio de estrelas e provar na taça como as castas Syrah e Sauvignon Blanc se desenvolveram nos arredores da capital.
Aliás, os rótulos produzidos no Cerrado são os chamados “vinhos de inverno” e podem ser tintos ou brancos, mas sempre intensos. Segundo Murillo de Albuquerque Regina, engenheiro agrônomo em viticultura e enologia, essa produção tem tido perfil sensorial interessante, com uma plena maturação de taninos e com alto potencial qualitativo. Tais características chamam a atenção de especialistas e críticos internacionais, que já começaram a comparar o terroir do Cerrado com o de outras regiões como o Napa Valley na Califórnia, Bordeaux na França e La Rioja na Espanha.
“A comparação se dá em função de uma condição da colheita das uvas, que para a elaboração de vinhos de inverno nessas regiões do Brasil ocorre entre junho e agosto, também sem pluviosidades como em Napa, com o céu azul e amplitudes térmicas importantes”. Explica Giuliano Pereira, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Viagem & Gastronomia. Além disso, ele complementa que, mesmo com possíveis comparações, cada parcela vitícola e cada terroir são únicos.
Poda brasileira
Tal amplitude térmica dos dias de inverno no Cerrado, combinada com a altitude e a baixa pluviosidade, faz com que as uvas amadureçam melhor, além de favorecer a acidez. Esses vinhos, bem estruturados, ricos em aromas e que expressam uma tipicidade bastante desejada, só são possíveis por uma técnica de poda brasileira. Desenvolvida em Minas Gerais, a “poda invertida” ou “dupla poda” permite a colheita da uva no ponto máximo de maturação durante o inverno. Assim, evitando as chuvas que poderiam prejudicar o processo.
Contudo, Murillo observou que o método aplicado em outras regiões do Brasil, no qual a videira era podada em agosto e colhida em janeiro, sob muita chuva, não funcionaria no Cerrado. Então, através dessa técnica, em conjunto com produtores locais, conseguiu inverter o círculo da videira. “Ele observou que o café em Minas Gerais amadurece e é colhido entre o outono e o inverno, em condições climáticas favoráveis. Testou para a videira e acertou em cheio!” conta o pesquisador Giuliano Pereira.
Com um potencial real no terroir e videiras ainda jovens produzindo uvas e vinhos de excelente qualidade, essa nova vitivinicultura brasileira no Cerrado apresenta uma oportunidade para o Brasil se tornar uma referência na produção de “vinhos de terroir”, que são aqueles que valorizam a expressão do terroir (clima, solo e homem), com elevada qualidade, tipicidade e que representam uma identidade regional. “Eu não tenho dúvida nenhuma que o Cerrado vai continuar expandindo e será um importante polo vitícola para o Brasil”, afirma Murillo.
Treinamento e capacitação de sommeliers
Dentro deste cenário de enocultura e enoturismo em ebulição, a Associação Brasileira de Sommeliers do Distrito Federal realiza um trabalho de treinamento e capacitação dos sommeliers para que eles possam participar de cursos e concursos internacionais. Quem coordena a formação destes novos profissionais é Etienne Carvalho, diretora e professora da ABS-DF. “Hoje temos alguns empresários que já oferecem passeios enoturísticos com jantares, almoços, visitas, pisas de uva e, recentemente, uma vinícola fez parceria e oferece até passeio de balão no lago norte”, diz Etienne.
Desse modo, para quem quer viver uma experiência sem sair da capital, Etienne conta que no dia 21 de abril será inaugurada a Vinícola Brasília, dentro da cidade, e que os visitantes poderão ver de perto como o vinho é feito.
Vinícolas para visitar nos arredores de Brasília
Villa Triacca – Brasília, DF
Localizada no Centro-Oeste brasileiro, a Villa Triacca é conhecida por combinar hotelaria e produção vinícola. Com 23 suítes, área de lazer com piscina aquecida e Vino Spa, oferece atividades como trilhas, pedalinhos e flutuação com peixes. O destaque, claro, é para sua produção de vinhos, que utiliza da técnica da “dupla-poda” para criar vinhos de inverno. São 6 hectares de vinhedos com diversas castas. Para descobrir o vinhedo, a Villa Triacca oferece tours guiados, degustações e experiências gastronômicas. Entre os rótulos, o “Seu Claudino”, primeiro vinho fino tinto brasiliense, o rosé “Dona Irani”, Sauvignon Blanc e o blend de Marselan-Syrah “Villa Triacca”
Villa Triacca: BR 251 Km 6,5 PAD-DF – Paranoá/ Contato: (61) 4103-2792
Vinícola Serra das Galés – Paraúna, GO
Com variedades como Isabel, Violeta, Niágara, Lorena, Cora, e Magna, utilizadas na linha Cálice de Pedra, e também Syrah e Touriga Nacional para o Vinho Fino Muralha, a vinícola demonstra a diversidade e qualidade das uvas produzidas na região. Fundada em 2007, Serra das Galés representa a realização de um sonho do médico Sebastião Ferro, que apostou na vitivinicultura no cerrado brasileiro. Atualmente, produzindo mais de 300 toneladas de uva por ano, a vinícola busca inovar e expandir sua produção, planejando utilizar outras variedades de uvas, como Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo, Malbec, Pinot Noir e Chardonnay.
Vinícola Serra das Galés: Rod. GO-320, KM 1, Setor Ponte de Pedra -Paraúna / Contato: (64) 99600-0958
Pireneus Vinhos Vinhedos – Cocalzinho de Goiás, GO
A Vinícola, localizada em um belo cenário de Cerrado, se destaca por sua pequena produção de uvas em cerca de 5 hectares. Com um clima caracterizado por dias quentes e secos, e noites e manhãs frias, o ambiente é propício para o cultivo de videiras. Assim, resultando em uma bela produção de vinhos brasileiros. Para visitas à vinícola, é necessário agendamento prévio, pois as instalações da fábrica estão localizadas em outro local. Aliás, a vinícola recebe visitantes aos finais de semana para conhecer seu projeto, os parreirais e desfrutar de um almoço harmonizado.
Pireneus Vinhos Vinhedos: Avenida Anapolis, q 36, Lt. 14a, s/n, Cidade dos Pirineus, Cocalzinho de Goiás/ Contato: (62) 33313922 | (62) 999443314
Ercoara – Brasília, DF
A Fazenda Ercoara se destaca por seus 20 anos de investimento na criação artesanal de ovinos de corte e na produção de vinhos finos desde 2017. Assim, utilizando a técnica da dupla poda, a fazenda busca criar um ambiente ideal para a maturação das uvas, com foco na variedade Syrah. Além de cultivar outras castas em seus 4,8 hectares de plantação. Aliás, a visita à fazenda oferece uma experiência enogastronômica completa, com degustação dos produtos locais e um almoço harmonizado com vinhos e espumantes da propriedade.
Ercoara: BR 251, KM 19, Cristalina, Goiás Campos Lindos, Cristalina – GO/ Contato: 61 9815-5650
Fazenda & Vinícola Jabuticabal – Hidrolândia, GO
A Fazenda Jabuticabal cultiva jabuticabas há mais de 20 anos, explorando a culinária típica da fruta. Dessa forma, com mais de 40 mil pés de jabuticabas, oferece pratos especiais e uma variedade de vinhos para degustação. Além disso, a fazenda conta com restaurante, choperia, lanchonete, empório e cafeteria. Aliás, aberta para o turismo rural, a Vinícola Jabuticabal oferece uma estrutura completa para quem busca tranquilidade.
Fazenda & Vinícola Jabuticabal: /Contato: (62) 99845-8986 / 99620-7576/ A Fazenda só abre entre setembro e outubro, a previsão da safra de 2024 está para 7 de setembro.
Fonte: cnn