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Após tarifaço de Donald Trump, companhias aéreas dos EUA podem ter mais a perder que a Embraer. Foto: Creative Commons

TARIFAÇO DE TRUMP: Companhias aéreas dos EUA podem ter mais a perder que a Embraer

Após Donald Trump, impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, as ações da Embraer despencaram, mas empresas aéreas dos EUA podem sofrer mais ainda, confira

Bastaram algumas horas até analistas chegarem próximos à unanimidade: a Embraer (EMB3) é uma das maiores impactadas pelas tarifas de 50% sobre produtos brasileiros imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump, talvez só tenha faltado combinar com as empresas aéreas americanas.

Apenas na manhã (10) as ações da Embraer chegaram a despencar mais de 8%, enquanto o mercado anotava as primeiras repercussões do anúncio. De fato, o peso dos Estados Unidos nas vendas da Embraer não é baixo: cerca de 60% das vendas da fabricante.

Os receios se dão em torno de dois cenários: um aumento nos custos refletido no balanço e a diminuição da demanda por aeronaves comerciais da companhia.

A Embraer conclui uma parte relevante dos seus jatos executivos na Flórida, nos Estados Unidos

Até cerca de 60% da linha Praetors leva componentes brasileiros, enquanto nos Phenoms chega a 40%. A XP estima que os EUA podem tributar parte dos aviões enviados ao país, o que elevaria os custos em até US$ 95 milhões para cada aumento de 10 pontos percentuais nas tarifas. Afetando a previsão de lucros antes de juros e impostos (EBIT) em 2026. Esse é o risco de custo. A Embraer não conseguiria repassar o custo dos pedidos já feitos. No entanto, poderia ajustar os novos pedidos com base na tarifa de 50%.

Já no caso dos jatos comerciais, o cliente é o responsável por pagar a tarifa. Daí o receio sobre a demanda: com aeronaves mais caras, aéreas dos Estados Unidos podem reduzir o número de novos contratos firmados com a fabricante brasileira.

A carteira de pedidos de jatos comerciais mais recente anota 336 pedidos firmes, dos quais 181 vêm de operadoras dos EUA. É um percentual bem próximo aos 60% de vendas para aquele mercado.

Pode parecer que a Embraer depende do mercado americano, mas não é bem assim. Acontece que tantas aéreas dos Estados Unidos compram da Embraer porque elas simplesmente não tem a quem recorrer.

O tamanho das aeronaves para alguns tipos de voos é restrito por uma regra chamada “cláusula de escopo” (scope clause), um acordo firmado entre operadoras e sindicatos de pilotos. Ela existe para limitar que grandes companhias aéreas aproveitem suas controladas dedicadas a voos regionais para contratar pilotos menos experientes. Mais baratos e não representados pelo sindicado das controladas.

Uma das regras é a seguinte: alguns voos regionais só podem ser feitos em aviões até 39 toneladas

São poucos os modelos com esse peso e assentos suficientes para tornar a operação viável. A linha de jatos E1, da Embraer, é a que satisfaz essas características.

Lucas Laghi, responsável pelos setores de Mineração e Siderurgia, Papel e Celulose e Bens de Capital na XP Investimentos, embora veja motivos para se preocupar com uma redução na demanda dos E1, acredita que Trump indicou a tarifa mais como ferramenta de negociação e que ela não deve ser mantida. “É quase um monopólio para a Embraer nessa rota regional específica”, diz.

Como nenhuma de suas concorrentes é capaz de absorver a demanda pelos E1 da Embraer, seria necessário mudar o perfil de rota nos Estados Unidos. Contudo, para estimular a compra de uma fabricante americana como a Boeing, a opção mais próxima aos E1 seria o A220. 135 assentos, contra 88 assentos no E-175, opção mais vendida da Embraer.

Sozinha, a American Airlines registrou 90 pedidos firmes de E-175; A Republic Airlines pediu 40; Skywest outros 16 e Horizon Air/Alaska 5.

Além do mais, nem é só pela ausência de modelos similares ao E1, como explica o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz: “A Boeing tem mais de 5.600 aeronaves encomendadas ainda não entregues. Enquanto a Airbus acumula cerca de 8.600. Não há espaço para absorver a demanda da Embraer sem gerar gargalos”.

Ele acredita que, se implementarem as tarifas, elas impactarão mais a aviação regional e a própria economia americana

Ele aponta: “Não vejo um cenário em que algo prejudique a Embraer, porque isso significaria comprometer o funcionamento de dezenas de companhias americanas e colocar em risco parte relevante da cadeia aérea dos Estados Unidos.”

Por fim, ao longo (10), as ações da Embraer reagiram e fecharam o dia com queda de 3,7%. Em nota, a empresa disse que “está trabalhando com as autoridades competentes visando restabelecer a alíquota zero dos impostos de importação para o setor aeronáutico”, complementou a fabricante de aeronaves”.

Fonte: infomoney