Brô MC’s leva a luta indígena ao palco do Grammy Latino com “Jaraha”, em parceria com DJ Alok, em uma performance que desafia protocolos
Nesta quinta-feira, 14 de novembro, quando as luzes do Grammy Latino se acenderem em Miami, um grupo vindo das aldeias Jaguapiru e Bororo, em Dourados, Mato Grosso do Sul, subirá ao palco para um momento histórico, o Brô MC’s, um grupo de rap indígena que mistura beats urbanos com tradições ancestrais, vai se apresentar ao lado do DJ Alok com a música “Jaraha”. A canção não concorre a prêmios, mas sua presença ali desafia protocolos e é, em si, um manifesto.
Aos olhos do Grammy, “Jaraha” talvez seja só mais uma performance. Mas para Kelvin Mbaretê, um dos integrantes do Brô MC’s, o momento tem um peso que vai muito além do reconhecimento artístico. “Estar aqui é uma demarcação de território,” ele diz, com a convicção de quem entende o palco como um campo de batalha. “É uma vitória para nós, indígenas, especialmente para meu povo Guarani e Kaiowá. É dizer ao mundo que estamos aqui, que temos nossa cultura, nossa voz.”
DJ Alok e Brô MC’s fazem história com música indígena no palco do Grammy, entenda mais do assunto
O grupo, que nasceu no coração das aldeias de Dourados, carrega uma mensagem de resistência. Não a resistência folclorizada que o mercado cultural celebra, mas uma resistência cotidiana, que lida com violências invisíveis e marginalizações diárias. A música “Jaraha” fala disso: de uma batalha que não cessa, de um povo que, apesar de tudo, segue em pé. E para Kelvin, o Grammy não é só uma oportunidade artística; é um espaço conquistado a duras penas, uma chance de levar a voz indígena para um público que dificilmente ouviria essa mensagem em outro lugar.
Um marco que desafia protocolos
A performance do Brô MC’s ao lado de Alok é algo incomum no Grammy Latino, que geralmente restringe suas apresentações a indicados ao prêmio. Mas “Jaraha” atravessou essa barreira. A canção faz parte do projeto “O Futuro é Ancestral”, criado por Alok, uma iniciativa que busca fundir a música eletrônica com elementos culturais indígenas. O projeto já rendeu ao DJ duas indicações ao Grammy Latino e, agora, coloca o Brô MC’s em um dos maiores palcos da música mundial.
Para Alok, essa parceria é um ato de reconhecimento e ampliação de vozes. Ele conta que, desde o início, o projeto “O Futuro é Ancestral” tinha como objetivo não apenas celebrar, mas respeitar e amplificar as expressões culturais indígenas. Ao lado dos integrantes do Brô MC’s, ele busca criar algo que não só emociona, mas educa. Em “Jaraha”, a batida eletrônica de Alok encontra a cadência do rap indígena, criando uma fusão que é, ao mesmo tempo, contemporânea e ancestral.
A resistência além da música
O Brô MC’s é conhecido por trazer para o rap uma narrativa que foge dos clichês da cultura pop. Em suas letras, o grupo não fala apenas de tradições; fala de lutas. CH MC, outro integrante do grupo, reforça que a presença deles no Grammy Latino é uma afirmação: “Queremos que todos entendam nossa realidade, o que enfrentamos diariamente. Nossa história e nossa cultura são essenciais.” Para ele, o show é um grito de resistência que reverbera para além do palco e atinge corações e mentes de quem, talvez, nunca tenha olhado para os povos indígenas como protagonistas de suas próprias histórias.
Com uma mistura de beats urbanos e vocais indígenas, a apresentação do Brô MC’s busca abrir caminho para que outras vozes indígenas sejam ouvidas. “Estar ao lado de nossos ídolos é uma chance única de levar a voz do nosso povo para aqueles que talvez nunca tivessem ouvido”, celebra Kelvin. A oportunidade de cantar “Jaraha” no Grammy representa mais do que um sonho realizado; é um marco para a música indígena e para a luta por visibilidade.
Um espetáculo para o mundo
Para o público, a apresentação do Brô MC’s é uma rara oportunidade de contato com a cultura indígena, mas sem o filtro do exotismo. Kelvin e CH MC falam de “resistência” e “orgulho” com a naturalidade de quem vive essas palavras diariamente. No palco do Grammy Latino, “Jaraha” não será apenas uma música. Contudo, será uma lembrança de que os povos indígenas do Brasil estão aqui, com suas histórias, suas batalhas e suas vozes.
É improvável que todos compreendam a profundidade desse momento. Mas para os integrantes do Brô MC’s e para muitos indígenas que acompanham de longe, essa apresentação é uma vitória – um reconhecimento de que a cultura indígena pode ocupar todos os espaços, até mesmo o palco mais prestigiado da música latina.
Fonte: Agência Brasil/AB