O número de pessoas insones vem aumentando a cada década, segundo especialistas
Todo mundo já teve ou vai ter dificuldade para dormir pelo menos uma vez ao longo da vida, mas isso não significa que a pessoa tenha o distúrbio da insônia.
- Como a tecnologia contribui para a insônia
- Quais são os efeitos da insônia no corpo
- Quais os fatores e os comportamentos de risco
- Como e onde procurar ajuda
- Quais os perigos da automedicação
Assim, a insônia é uma situação clínica muito comum, onde a pessoa tem dificuldade de iniciar o sono, de permanecer dormindo ou ambos.
“A insônia é diferente da privação de sono (que é quando a pessoa dorme pouco). Na insônia o indivíduo tem a oportunidade de dormir, mas acaba acordando mais cedo do que o desejado e não consegue voltar”, explica Luciano Drager, professor associado do departamento de clínica médica da FMUSP e presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS).
O distúrbio da insônia é dividido em dois tipos:
- Insônia aguda: é uma condição de curto prazo. A pessoa tem dificuldades no sono que duram alguns dias ou semanas, mas não mais que três meses. Além disso, pode estar relacionada com fatores externos, como divórcio, morte, doença. Se ela persistir por mais de três meses ela vira crônica.
- Insônia crônica: a pessoa tem dificuldades para dormir e sintomas diurnos relacionados (leia abaixo) por pelo menos três vezes por semana e dura pelo menos três meses.
1 – Como a tecnologia contribui para o distúrbio da insônia
O número de pessoas insones vem aumentando a cada década, segundo especialistas. Assim, dados da Associação Brasileira do Sono (ABS) apontam que cerca de 73 milhões de brasileiros sofrem com o distúrbio.
Aliás, Drager explica que a tecnologia é uma das “culpadas” pelo aumento de insones no mundo. Aliás, houve uma piora no padrão de hábitos que acabam facilitando o surgimento da insônia e da privação do sono.
“As pessoas estão mais conectadas, o estímulo visual aumentou – antes líamos livros, agora lemos no tablet, no celular. Temos fácil acesso à televisão, internet, redes sociais. Sendo assim, esses estímulos acabam inibindo a melatonina à noite, criando ambientes que favorecem a insônia, a privação do sono, a um sono de má qualidade“.
Assim, transtornos de humor como depressão e ansiedade também influenciam no dormir e na insônia. E eles têm aumentado também. Dessa forma, um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que a pandemia fez aumentar em mais de 25% número de casos desses dois transtornos em todo o mundo.
Portanto, o dormir bem exige manter a mente e o corpo em harmonia. Com tudo alinhado, conseguimos relaxar, iniciar o sono e desligar. “Estamos em um ambiente mais propício para a insônia e a pandemia foi a cereja do bolo que contribuiu para aumentar os casos de transtornos de humor”, alerta o presidente da ABS.
2 – Quais são os efeitos do distúrbio da insônia no corpo
A sonolência não é o principal sintoma da insônia. Assim, o distúrbio pode afetar quase todos os aspectos da vida. Contudo, a pessoa pode ter mais dificuldades na concentração, pode ficar mais irritada, pode ter problemas de memória, prejuízos metabólicos e cardiovasculares a longo prazo.
Veja abaixo os sintomas diurnos relacionados à perda de sono:
- Fadiga
- Atenção ou memória prejudicada
- Problemas com trabalho, escola ou desempenho social
- Irritabilidade ou humor perturbado
- Sonolência
- Diminuição da motivação
- Aumento de acidentes ou erros
- Problemas comportamentais, como hiperatividade ou agressividade, especialmente em crianças
3 – Quais os fatores e os comportamentos de risco
Qualquer pessoa pode ter insônia, desde a criança até o idoso. No entanto, existem alguns fatores associados à doença, como ser mulher, nível socioeconômico e problemas crônicos:
- Ser mulher
- Idosos
- Nível socioeconômico mais baixo
- Condições médicas como diabetes
- Outros distúrbios do sono (ex: apneia do sono)
- Transtornos do humor
- Genética (familiar imediato com insônia)
Vale sempre lembrar que não é porque você tem um ou dois fatores de risco que você terá insônia (e vice-versa).
E os comportamentos de risco? Evitar certos comportamentos pode ajudar a “prevenir” a insônia.
“Comorbidades não tratadas, como depressão, ansiedade, comportamentos alimentares, entram no comportamento de risco para insônia. Outra coisa que devemos evitar: discutir relação, problemas financeiros próximo do horário de dormir. Uma refeição mais pesada antes da hora de dormir também é ruim”, elenca o presidente da ABS.
Preparar o quarto para o dormir – temperatura adequada, luz controlada, espaço confortável, eletrônicos guardados – é essencial para o bom sono. Agora, se mesmo assim a pessoa sente dificuldade para dormir, talvez seja hora de consultar um especialista.
4 – Como e onde procurar ajuda
Se você demora mais de 30 minutos para pegar no sono, acorda durante a noite, tem dificuldade para voltar a dormir, acorda mais cedo do que gostaria, você pode ter insônia. E existe tratamento para o distúrbio. Por isso, procure ajuda.
O primeiro atendimento pode ser feito com um clínico geral, que fará o encaminhamento de acordo com o quadro do paciente. Dessa forma, muitos profissionais que atuam no tratamento de distúrbios como a insônia são especialistas em medicina do sono.
Luciano Drager explica que o tratamento não é feito apenas com medicação. Aliás, também existe o tratamento não farmacológico, que visa mudança de hábitos e no estilo de vida.
“Muitas vezes as pessoas só querem a medicação, não querem mudar hábitos, não tratam a depressão, ansiedade. Eles querem a fórmula mágica, uma pílula para apagar. Mas não adianta, precisamos trabalhar uma abordagem integrada”.
Entretanto, o tratamento depende de cada caso, como explicamos acima. Ele pode englobar a higiene do sono, a terapia cognitivo-comportamental para insônia e o uso de medicamentos.
5 – Como deve ser o tratamento e quais os riscos da automedicação?
Em resumo, podemos dizer que:
- O tratamento da insônia pode ser feito sem medicação;
- A insônia não tem cura, mas pode entrar em remissão;
- Tratamento é individualizado e depende do profissional que faz o acompanhamento;
- Automedicação posterga o tratamento e deve ser combatida;
- Mudanças de hábitos podem ajudar no tratamento da insônia;
“Estamos numa fase que a automedicação faz com que o paciente postergue o tratamento. De fato, isso é preocupante. Essa chamada de atenção para buscar ajuda é muito relevante. Não devemos achar que a insônia é normal, ainda mais quando está persistente. Desse modo, a automedicação deve ser combatida. Os pacientes podem mudar o quadro com mudanças de hábitos, mas querer mudar hábitos é muito difícil”, comenta Drager.
- Melatonina não é um medicamento e não é inocente;
- Estudos sobre o uso da melatonina para tratar a insônia são conflitantes;
- Melatonina não está indicada para o tratamento regular da doença;
- Uso inadequado da melatonina pode ser prejudicial.
“Faltam estudos bem desenhados para testar a melatonina no contexto da insônia. Certamente, os estudos são conflitantes. Por isso, ela não é usada no tratamento regular da doença, não está indicada. Contudo, muitas pessoas sem conhecimento usam para tratar a insônia, um uso inadequado. No entanto, ela não é inocente e não deve ser tomada sem recomendação médica”, alerta o presidente da ABS.