Economistas e analistas de mercado esperavam que o colegiado do BC optasse por passar uma mensagem de consenso
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil optou como esperado por interromper o ciclo de cortes na taxa de juros e manteve na quarta-feira (19) a taxa Selic em 10,50% ao ano, também conforme o aguardado, a decisão foi unânime entre os diretores do BC.
Assim, economistas e analistas de mercado esperavam que o colegiado do BC optasse por passar uma mensagem de consenso. Uma vez que a decisão dividida da última reunião, em maio, havia gerado ruídos sobre divergências internas.
O placar anterior de 5 a 4 pela redução do ritmo de cortes naquela reunião trouxe uma leitura de possível tolerância com a inflação por parte dos novos diretores indicados pelo governo Lula. Aliás, no ano que vem, serão sete os integrantes do Comitê nomeados pela atual gestão.
Segundo o comunicado, o Comitê, unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros. Assim, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade. Elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela.
“A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz o texto.
O Copom informou ainda que se manterá vigilante e relembra, como usual. Que “eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.
Comunicado do Copom na íntegra
“Copom mantém a taxa Selic em 10,50% a.a.
O ambiente externo mantém-se adverso, em função da incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado. A inflação cheia ao consumidor tem apresentado trajetória de desinflação. Enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,0% e 3,8%, respectivamente.
As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,0% em 2024 e 3,4% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4% em 2024 e 4,0% em 2025. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic mantida constante ao longo do horizonte relevante. Aliás, as projeções de inflação situam-se em 4,0% para 2024 e 3,1% para 2025.
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação. Destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. Assim, o Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas. Exigindo maior cautela na condução da política monetária.
O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros. Assim, consequentemente impactando a política monetária.
Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis. Aliás, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 10,50% a.a. e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços. Essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento. Ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador. Demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.
O Comitê, unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros. Destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade. Elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual. Que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.
Assim, votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de R$5,30/US$. Evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio obtido pelo procedimento. Que aliás, passou a adotar na 258ª reunião, de arredondar a cotação média da taxa de câmbio observada nos dez dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.”
Fonte: infomoney