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Brasil propõe cooperação técnica para melhorar a segurança alimentar da África Foto: Ag. Brasil

Brasil busca fortalecer laços com a África no setor agrícola

Brasil propõe cooperação técnica com países da África, com foco na segurança alimentar

Proposta é promover cooperação técnica com 55 países africanos para melhorar a segurança alimentar de todo o continente. Assim, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) vão financiar a vinda de pesquisadores agrícolas africanos ao país.

Representantes das três instituições assinaram (19), uma carta de intenções para promover o intercâmbio de especialistas. O objetivo é promover a cooperação técnica entre Brasil e os 55 países africanos, fortalecendo sobretudo a rede de cooperação internacional com foco na segurança alimentar.

Detalhes sobre a execução da iniciativa ainda vão ser definidos, contudo, as instituições já anteciparam que a ideia é contemplar, por um período de tempo, ao menos 30 pesquisadores de institutos científicos, universidades ou órgãos de governo.

Três áreas de pesquisa serão contempladas. Agricultura regenerativa, como forma de preservar os recursos naturais, tornando a produção mais sustentável; segurança alimentar e nutricional, a fim de garantir acesso a alimentos saudáveis às populações e resiliência e recuperação de áreas degradadas, aspecto fundamental para a sustentabilidade dos agrossistemas produtivos.

As instituições também se comprometem a identificar, formular, assim como implementar iniciativas conjuntas, atendendo primordialmente às necessidades e demandas dos países cooperantes.

Seminário

A carta de intenções foi firmada durante o seminário Diálogo África-Brasil em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) na Agropecuária, levando a cooperação internacional ao próximo nível. Nesse sentido, o evento foi realizado na sede da Embrapa, em Brasília, e transmitido pelo canal do IICA Brasil, no Youtube.

Participaram do encontro representantes do governo federal, bem como embaixadores de países africanos, juntamente com integrantes de instituições de cooperação e pesquisa. Estava presente também o cientista indiano Rattan Lal, professor emérito da Universidade de Ohio (EUA), vencedor do Nobel da Paz de 2007 e do Prêmio Mundial de Alimentação, em 2020. Durante o evento, ele discorreu sobre os desafios e oportunidades da produção agrícola no continente africano.

De certa forma, o seminário desta quarta-feira serviu de evento preparatório para a reunião que, em maio deste ano, trará ministros da Agricultura africanos a Brasília, para discutir formas de aumentar a produtividade agropecuária no continente.

“Vamos fazer uma reunião para mostrar o que temos de bom no Brasil, levar eles [ministros africanos] a campo para ver o que está acontecendo de bom [no Brasil], e depois fazer uma reunião técnica, coordenada pela Embrapa, pelo Ministério das Relações Exteriores, pra gente transferir um pouco de conhecimento para os nossos companheiros africanos e ver se a gente combate a fome de verdade”, disse Lula, quando anunciou o agendamento da reunião.

Embora concentre quase 65% das terras aráveis não-cultivadas e cerca de 10% dos recursos renováveis de água do planeta, o conjunto dos países africanos ainda importa boa parte do alimento que abastece a população local.

De acordo com o Banco Africano de Desenvolvimento, o setor agrícola emprega mais de 60% da força de trabalho e representa cerca de um terço do PIB continental. Ainda assim, a África é a região com maior insegurança alimentar do mundo.

Cooperação

Hoje, o secretário de comércio e relações internacionais do Mapa, Luis Rua, confirmou que o seminário é uma oportunidade para governo, instituições e especialistas debaterem, antes da reunião de ministros da Agricultura, “aquilo que podemos trocar de conhecimentos e informações”. Segundo Rua, a aproximação com o continente africano é uma “prioridade para o governo Lula”.

“Depois de um interregno de anos, teremos uma nova reunião de ministros da Agricultura. Esperamos a presença dos 54 ministros de agricultura e de suas equipes para que possamos ter este momento de reflexão. E este momento, este diálogo [que acontece hoje], já se insere neste esforço.”

O secretário de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Laudemar Gonçalves de Aguiar Neto, fez um comentário. A expectativa brasileira ao promover o intercâmbio é aprender com a diversidade de experiências africanas. Assim, essa iniciativa deve promover o desenvolvimento conjunto.

“É como o Brasil vê a cooperação. Em geral e especificamente com a África. Uma cooperação horizontal, para o desenvolvimento, e na qual não impomos regras, nem obstáculos. Assim, não exigimos nada em troca. São os países que dizem o que querem em troca. Isso é muito importante na cooperação sul-sul e com a África”, ressaltou o embaixador.

A presidenta da Embrapa, Silvia Massruhá, destacou que os investimentos em ciência e tecnologia foram fundamentais. A Embrapa desenvolveu um modelo de agropecuária tropical próprio desde a década de 1970. Esse modelo tem reconhecimento mundial e pode ter aplicação em outras partes.

“As conquistas do Brasil no setor agropecuário comprovam que apostar em ciência e tecnologia é sempre a melhor escolha. Hoje, produzimos alimentos para abastecer nossa população e construímos significativamente a segurança alimentar mundial. Mais que compartilhar essas conquistas, queremos dar um passo além. O objetivo é ampliar o desenvolvimento do conhecimento em parceria com os países do sul global”, afirmou Silvia.

Por fim, o diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero, afirmou que a parceria com a Embrapa e ABC ajudará a levar tecnologias aos países africanos. Em suma, essas tecnologias se adaptam a realidades tropicais e foram desenvolvidas pela Embrapa. Muitas delas podem e devem ter aplicação no continente africano.

“Graças a investimentos estratégicos em pesquisa, inovação e capacitação técnica, o Brasil transformou áreas como o cerrado. Essas áreas se tornaram regiões altamente produtivas, a partir do trabalho da Embrapa. O aprendizado desta jornada pode ter adaptação e compartilhamento com os países africanos, respeitando suas realidades e peculiaridades locais”, disse Otero.

Fonte: Ag. Brasil de Notícias