O banheiro, esse espaço tão cotidiano e, muitas vezes, não valorizado, ganha protagonismo nesta quarta-feira (19), Dia Mundial do Banheiro. E o Brasil tem motivo para comemorar: segundo levantamento da ABCON (Associação Brasileira de Empresas de Saneamento), 98,3% dos lares do país já contam com banheiro de uso exclusivo.
O dado, extraído da PNAD Contínua 2024 (IBGE), mostra um avanço que pode parecer discreto no papel, mas representa uma mudança real na vida das pessoas. Em 2019, o índice era de 97,7%. Em cinco anos, 7,8 milhões de lares passaram a ter acesso a um banheiro próprio, um item que, além de conforto, significa saúde, higiene e dignidade.
Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o acesso é praticamente universal, acima de 99,8% das residências. Já Norte e Nordeste foram os destaques do período, com aumentos de 2,4 pontos percentuais no Norte (de 89,9% para 92,2%) e de 1,3 ponto no Nordeste (de 94,8% para 96,1%).
Para a ABCON, o avanço está ligado a investimentos estruturantes e ao compromisso com as metas do Marco Legal do Saneamento. Que, contudo, prevê a universalização dos serviços até 2033.
Um avanço que muda vidas
Em entrevista ao R7, o professor e especialista em infraestrutura Gustavo Justino de Oliveira destaca que o ganho recente é mais expressivo do que parece. “O crescimento de 97,7% para 98,3% pode parecer pequeno quando visto apenas no percentual, mas representa um avanço concreto nas condições de moradia. Em um país com mais de 70 milhões de domicílios, uma variação de 0,6 ponto porcentual corresponde a milhões de famílias que passaram a ter acesso a um banheiro exclusivo, elemento fundamental para saúde, higiene e dignidade”, ressalta.
Ele explica que o movimento é resultado de uma combinação de fatores — da urbanização contínua aos programas habitacionais e à ampliação dos serviços de água e esgoto. “Novas moradias já vêm sendo construídas com infraestrutura básica. E, à medida que o serviço de água e esgoto melhora, a presença de banheiro tende a acompanhar essa evolução”, analisa.
Justino aponta ainda que o Marco Legal do Saneamento trouxe pressão por investimentos e fiscalização, mas lembra que seus efeitos mais profundos são graduais.“Embora a ampliação de 7,8 milhões de domicílios com banheiro seja relevante, ainda convivemos com 1,3 milhão de lares sem esse recurso básico. Para cumprir o objetivo legal, seria necessário acelerar, especialmente nas regiões historicamente mais deficitárias.”
Desigualdades que persistem
A maior concentração de domicílios sem banheiro próprio no Norte e Nordeste, segundo o especialista, não é fruto do acaso. “Essas regiões carregam um déficit estrutural de saneamento, marcado por décadas de baixo investimento. No Norte, a dispersão geográfica, áreas de difícil acesso e a presença da floresta elevam custos e complexidade técnica. No Nordeste, embora mais urbanizado, muitos municípios têm baixa capacidade fiscal e dependem de repasses federais. A vulnerabilidade socioeconômica também dificulta a formalização das moradias.”
Para Justino, o Dia Mundial do Banheiro é uma oportunidade de lembrar que, embora silencioso no dia a dia, o banheiro é um símbolo poderoso de cidadania.
“A data lembra que milhões ainda vivem sem banheiro, condição diretamente ligada à saúde, à dignidade e às desigualdades regionais. Ela mobiliza governos, sociedade e empresas, reforça a importância das metas de 2033 e estimula campanhas educativas e ações de conscientização”, salienta.
Fonte: r7




