Nos primeiros seis meses de 2025, as exportações do Brasil para a Argentina ampliaram, principalmente a de carne bovina, que cresceu aproximadamente em US$ 22,9 milhões
Entre os meses de janeiro e junho deste ano, as exportações do Brasil para a Argentina apresentaram um crescimento significativo, com destaque para os veículos de passageiros, que representaram 21,6% do total vendido, seguidos por autopeças e acessórios com 9,7%, além de veículos destinados ao transporte de mercadorias, que somaram 6,4%.
Outro dado notável refere-se ao comércio de Carne Bovina, um produto tradicional brasileiro. As exportações desse item cresceram de aproximadamente US$ 1 milhão no primeiro semestre do ano passado para impressionantes US$ 22,9 milhões no mesmo período deste ano. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) forneceu essas informações, e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) as compilou.
Embora a participação da carne brasileira no mercado argentino ainda seja modesta — correspondendo a apenas 0,25% do total das exportações —, essa realidade não representa uma ameaça à produção local. Historicamente, frigoríficos estrangeiros atuam na Argentina e utilizam a carne brasileira principalmente em produtos processados, como hambúrgueres. No entanto, desde 2025, parte dessa carne começou a ser direcionada também para cortes diretos, conforme relatado por representantes do setor.
Preços mais baixos impulsionam as importações
Um apresentador da TV Crónica fez uma observação intrigante sobre essa nova dinâmica: “É algo insólito. No país conhecido pela sua carne e churrasco, estamos agora importando esse tipo de alimento do Brasil. É mais barato importar do que produzir aqui”. A diferença de preços é evidente; em março deste ano, o quilo da carne brasileira era comercializado a 9.000 pesos argentinos nas cidades da Patagônia. Enquanto a carne nacional custava cerca de 22 mil pesos.
Além disso, consumidores argentinos têm notado que produtos como pão fatiado brasileiro e leite uruguaio são frequentemente oferecidos a preços mais competitivos em comparação aos produtos locais. Nérida Arsas, uma residente de Buenos Aires de 69 anos, comentou sobre essa situação.
Relações bilaterais favorecem comércio
No que diz respeito ao comércio inverso, o Brasil adquiriu US$ 6,2 bilhões em produtos argentinos no primeiro semestre deste ano. Resultando em um superávit de US$ 3 bilhões favorável ao país. Esse aumento nas transações comerciais ocorre em meio ao aquecimento das relações entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Javier Milei.
A Argentina tem intensificado suas importações em 2025. Dados recentes indicam que as compras externas alcançaram 32% do PIB no primeiro trimestre do ano — a maior proporção registrada em 135 anos. Conforme análise da consultoria Argendata.
Impactos no setor produtivo da Argentina
Santiago Bulat, economista e professor da IAE Business School, ressaltou que as importações argentinas estavam em níveis baixos no ano anterior devido às dificuldades econômicas impostas pelas políticas de Milei. Ele observa que a atividade econômica teve um crescimento acentuado nos primeiros meses deste ano; no entanto, há sinais de estagnação nos últimos meses.
Com peso valorizado, Brasil amplia exportações para a Argentina – Confira a conclusão sobre o tema
Apesar do ambiente econômico mais estável atualmente, o aumento das importações tem gerado efeitos adversos para muitas empresas argentinas — especialmente as pequenas e médias — que estão enfrentando dificuldades competitivas. Mais de 11% dessas empresas exportadoras deixaram de operar no exterior devido à perda de competitividade e 41,3% das PMEs relataram queda nas vendas internas.
A associação das pequenas e médias empresas argentinas (IPA) alertou que o governo não adotou políticas efetivas para proteger essas empresas locais ao mesmo tempo em que implementou medidas para incentivar as importações. Como resultado, setores como o têxtil e o metalúrgico estão sofrendo aumentos significativos nas taxas de desemprego.
Embora o crescimento das importações argentinas pareça sustentável até o final deste ano, Bulat adverte que a ausência de uma reforma tributária robusta pode acentuar as dificuldades enfrentadas por certos setores devido à elevada carga tributária provincial.
Fonte: folha de s.paulo