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Angela Merkel deixa o cargo de chanceler da Alemanha, logo após os resultados das eleições desse domingo (26)

Angela Merkel: a mulher mais poderosa do mundo deixa o cargo esta semana

Após 16 anos à frente do governo alemão, Angela Merkel se prepara para deixar o cargo de chanceler; neste domingo (29), os alemães irão às urnas para eleger o novo governo

Quem é Angela Merkel

Angela Merkel é uma cientista e política alemã. Chanceler da Alemanha desde 2005, cargo equivalente ao de primeira-ministra, ela é a mais longeva chefe de estado do país depois de Otto von Bismarck, no século 19, e de Helmut Kohl, seu padrinho político, de 1982 a 1998. Merkel vai deixar o posto após as eleições que serão realizadas neste domingo (26). Dependendo do tempo para formação e posse de um novo governo, poderá ultrapassar seu mentor.

Primeira mulher a comandar a Alemanha, Merkel sai de cena festejada como uma das principais lideranças políticas do mundo, popular em seu país e fora dele. Liderou os alemães durante a crise financeira internacional de 2008, a crise da Zona do Euro, a anexação da Crimeia, na Ucrânia, pela Rússia, em 2014, a crise dos refugiados na Europa, em 2015 e 2016, e durante a pandemia de Covid-19.

Vale ressaltar que o país é o mais rico e populoso da União Europeia, então seus governantes são líderes naturais do bloco. Merkel é reconhecida como gestora competente de crises e negociadora de consensos.

Merkel foi eleita para quatro mandatos consecutivos em 2005, 2009, 2013 e 2017. Ela decidiu não se candidatar para mais um período, apesar de seu prestígio. A chanceler é descrita como conciliadora, ponderada, pragmática, bem informada e alguém que houve mais do que fala. É, no entanto, criticada por adiar decisões até o último momento e, em determinadas situações, não agir de maneira incisiva o suficiente.

Desde que entrou na política, depois da queda do Muro de Berlin – e principalmente após se tornar chanceler -, seus jeitos, gestos, aparência, corte de cabelos, roupas, humor, modo de falar e o fato de não ter filhos, estiveram sob escrutínio público. Provavelmente de maneira mais intensa do que ocorre com políticos homens. Ela furou a bolha de uma atividade que, até sua ascensão, era eminentemente masculina na Alemanha.

Pouca tolerância a críticas, mas bem humorada

“Entre as lideranças alemãs, Merkel é uma anomalia tripla: mulher (divorciada e casada novamente, sem filhos), cientista (química quântica) e da [antiga] Alemanha Oriental”, diz reportagem da revista New Yorker.

Merkel não é considerada carismática nem boa oradora, embora seja inteligente, muito instruída, hábil e eficiente na política. Seus discursos são qualificados como monótonos, mas é tida como engraçada na vida privada. É dada a ironias, mas tem pouca tolerância a críticas. Algumas de suas marcas registradas são as mãos unidas em forma de losango em frente ao corpo e os ternos de variadas cores.

É chamada pelos alemães de “Mutti”, o que significa “Mamãe”, embora não tenha filhos. Ela tem dois enteados, filhos do segundo marido.

Angela Merkel foi eleita dez vezes consecutivas a mulher mais poderosa do mundo pela revista Forbes.

Atrás da Cortina de Ferro

Angela Dorothea Kasner nasceu em Hamburgo, na então Alemanha Ocidental, em 17 de julho de 1954. Mais velha dos três filhos do casal Horst e Herlind Kasner – ele pastor luterano e ela professora de latim e inglês -, Angela tinha apenas semanas de vida quando a família se mudou para Quitzow, em Brandemburgo, na antiga Alemanha Oriental. Merkel cresceu, estudou e trabalhou na comunista República Democrática Alemã.

Em 1957, os Kasner se mudaram para Templin, também em Brandemburgo, ao norte de Berlim, onde a futura chanceler terminou o ensino médio. Ela era muito aplicada e se destacou nos estudos. Aluna de russo, participou de competições do idioma e venceu em todos os níveis, do local ao nacional. Ganhou como prêmio uma viagem à Rússia e tinha grande interesse no país que, na época, exercia influência quase absoluta na Alemanha Oriental, e na Europa do Leste como um todo.

Seu conhecimento do país e da língua russa é apontado como um dos fatores que a levaram a ser a principal interlocutora do presidente da Rússia, Vladimir Putin, entre as lideranças ocidentais.

Merkel integrou instituições juvenis do regime comunista da Alemanha, como a Jovens Pioneiros e a Juventude Livre Alemã, mas nunca se filiou ao partido governante e se recusou a ser informante da Stasi, a temida polícia política da época, mesmo tendo sido abordada. Manteve uma postura de silencio público e crítica privada ao governo.

De 1973 a 1978, estudou Física na Universidade Karl Mark, em Leipzig. Lá, conheceu seu primeiro marido, Ulrich Merkel, também estudante de Física. Eles se casaram em 1977, quando Angela tinha 23 anos, e se divorciaram em 1982. A futura chanceler, no entanto, manteve o sobrenome do ex-esposo.

Em 1986, ela obteve um doutorado em Química Quântica. Desde que terminara a faculdade e até entrar na política, trabalhou na Academia de Ciências da Alemanha Oriental, uma instituição de pesquisa, em Berlim. Segundo a New Yorker, Angela era a única mulher do departamento de química teórica, “uma observadora atenta dos outros e intensamente curiosa sobre o mundo”.

Muro caiu

Depois da queda do muro, em 09 de novembro de 1989, Merkel se uniu ao recém criado partido Despertar Democrático. De acordo com a New Yorker, aos 35 anos, ela bateu na porta da agremiação e disse: “Posso ajudar?”. E ajudou. Em fevereiro de 1990, ela se tornou porta-voz de imprensa da legenda.

No mesmo mês, o grupo se juntou à Aliança para a Alemanha, uma coalização que contava com a União Social Alemã (DSU) e a União Democrata Cristã (CDU). A coligação ganhou a primeira e única eleição livre da Alemanha Oriental, em março de 1990. O novo primeiro-ministro, Lothar de Maizière (CDU), nomeou Merkel como porta-voz adjunta do governo.

Ela se filiou à CDU e o partido se fundiu à sua contraparte na Alemanha Ocidental, a CDU de Helmut Kohl, em 01 de outubro de 1990, um dia antes da reunificação da Alemanha. Em dezembro, na primeira eleição do país reunificado, Merkel foi eleita para o Parlamento, o Bundestag, então ainda em Bonn, hoje em Berlim.

Kohl, artífice da reunificação, a nomeou para seu gabinete como ministra das Mulheres e Juventude. O então chanceler apresentou Merkel como “mein Mädchen”, ou “minha garota”. Ela passou a ser chamada de “Kohls Mädchen”, ou “Garota de Kohl”. Em 1991, Merkel foi escolhida como vice-presidente da CDU.

Depois das eleições de 1994, com mais uma recondução, de Kohl, Merkel passou a ser ministra do Meio Ambiente. Ela presidiu a primeira Conferência das Nações Unidas para o Clima, realizada em Berlim, em 1995. A primeira COP.

Em 1998, Kohl perdeu a eleição para Gerhard Schröder, do Partido Social Democrata da Alemanha (SPD). No mesmo ano, Merkel foi eleita secretária-geral da CDU e casou com seu segundo marido, o químico Joachim Sauer, seu companheiro havia muitos anos.

Fila anda

Em 1999, a reputação de Kohl e da CDU foi abalada por um escândalo de financiamento de campanha que envolvia doações não declaradas e contas secretas. A “Garota de Kohl” não perdeu tempo e publicou carta aberta na imprensa conclamando o partido a romper com seu antigo líder.

“Agora o partido precisa aprender a andar e ousar travar batalhas com seus oponentes políticos sem seu cavalo de batalha, como Kohl frequentemente gosta de chamar a si mesmo”, escreveu ela. “Nós que agora temos responsabilidade pelo partido, e não muita por Helmut Kohl, vamos decidir como abordar esta nova era”, acrescentou. Em 2000, Merkel foi eleita presidente da CDU, primeira mulher e primeira pessoa não católica a ocupar o cargo.

Embora tivesse vontade de se candidatar a chanceler em 2002, por pressão do partido cedeu a vaga para Edmund Stoiber, da aliada União Social Cristã (CSU). A coligação perdeu a eleição para o social democrata Schröder, e Merkel se tornou líder da oposição.

Navegando crises

Em 2005, porém, ela saiu candidata e venceu Schröder, sendo confirmada como primeira mulher chanceler da Alemanha. Em seu primeiro mandato, após referendos na França e na Holanda terem derrubado o projeto de uma Constituição Europeia, ela se empenhou na negociação do alternativo Tratado de Lisboa, que deu ao bloco suas características institucionais atuais.

Em 2011, Merkel mudou de opinião sobre a energia nuclear e anunciou o fechamento gradual de todas as usinas atômicas da Alemanha, após o desastre de Fukushima, no Japão.

Uma das principais crises enfrentadas por Merkel foi a da Zona do Euro, a partir de 2010, que se seguiu à crise financeira internacional detonada em 2008. Ela demorou para concordar em socorrer a endividada Grécia e, em 2011, bloqueou iniciativas dos Estados Unidos e da França de promover uma ação europeia coordenada, frente à deterioração das economias de países do Sul da Europa e das ameaças à integridade do euro.

Merkel acabou concordando com um plano para evitar o calote grego por meio do Banco Central Europeu, após pressão de outras nações do bloco e dos EUA, mas a Grécia e outros países endividados foram submetidos a rígidas regras ficais e à supervisão da UE sobre seus bancos centrais.

“Se o euro cair, a Europa cai”, disse ela na época. Apesar da afirmação, sua atuação na ocasião rendeu críticas: de se preocupar mais com seu eleitorado do que com seu lugar na história, de priorizar táticas de curto prazo ao invés de ter estratégias duradouras. “Na Europa, onde a influência da Alemanha é mais importante, a relutância da sra. Merkel em exercê-la é especialmente decepcionante”, diz a revista britânica The Economist.

Hábil, inteligente

Críticas semelhantes ocorreram quando da anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014. Merkel não teria sido contundente o suficiente na oposição à ação de Putin. Sua relação com o líder russo continua a ser objeto de desaprovação, e também com a China. A Economist a chama de “complacente”.

A revista reclama que a Alemanha “aconchega-se” com Pequim em busca de vantagens comerciais e dá muito poder a Putin sobre o abastecimento europeu de energia, ao apoiar o novo gasoduto Nord Stream 2, para fornecimento de gás da Rússia à Alemanha.

Em 2015, no entanto, Merkel deu bola dentro ao anunciar a abertura das fronteiras para um milhão de refugiados, em meio a uma crise exacerbada pela guerra civil na Síria, na mão contrária de outros países europeu. Contrariou alguns líderes europeus e despertou a ira de grupos de extrema direita, mas se saiu como heroína internacional.

Mais recentemente, em 2020, marcou outro gol ao adotar medidas firmes para contar a disseminação da Covid-19 logo no início da pandemia, como a suspensão de uma série de atividades e o confinamento das pessoas.

Viabilizou planos ambiciosos

Ela ainda endossou a criação de um instrumento financeiro que permitirá à União Europeia emitir títulos da dívida garantidos conjuntamente. O dinheiro poderá ser usado para empréstimos, mas também em doações, injetando bilhões na retomada da economia pós-Covid e ajudando a viabilizar o ambicioso Plano Ecológico Europeu (European Green Deal), de desenvolvimento sustentável.

De acordo com a Folha de S. Paulo, Merkel fez 533 viagens ao exterior como chanceler e esteve em 89 países. Entre eles, o Brasil. Ela assistiu a vitória da Alemanha sobre a Argentina na final da Copa do Mundo de 2014, no Maracanã, ao lado da então presidente brasileira, Dilma Rousseff. Isso foi depois do inesquecível 7 a 1.

Atrás da Cortina de Ferro

Angela Dorothea Kasner nasceu em Hamburgo, na então Alemanha Ocidental, em 17 de julho de 1954. Mais velha dos três filhos do casal Horst e Herlind Kasner – ele pastor luterano e ela professora de latim e inglês -, Angela tinha apenas semanas de vida quando a família se mudou para Quitzow, em Brandemburgo, na antiga Alemanha Oriental. Merkel cresceu, estudou e trabalhou na comunista República Democrática Alemã.

Em 1957, os Kasner se mudaram para Templin, também em Brandemburgo, ao norte de Berlim, onde a futura chanceler terminou o ensino médio. Ela era muito aplicada e se destacou nos estudos. Aluna de russo, participou de competições do idioma e venceu em todos os níveis, do local ao nacional. Ganhou como prêmio uma viagem à Rússia e tinha grande interesse no país que, na época, exercia influência quase absoluta na Alemanha Oriental, e na Europa do Leste como um todo.

Seu conhecimento do país e da língua russa é apontado como um dos fatores que a levaram a ser a principal interlocutora do presidente da Rússia, Vladimir Putin, entre as lideranças ocidentais.

Merkel integrou instituições juvenis do regime comunista da Alemanha, como a Jovens Pioneiros e a Juventude Livre Alemã, mas nunca se filiou ao partido governante e se recusou a ser informante da Stasi, a temida polícia política da época, mesmo tendo sido abordada. Manteve uma postura de silencio público e crítica privada ao governo.

De 1973 a 1978, estudou Física na Universidade Karl Mark, em Leipzig. Lá, conheceu seu primeiro marido, Ulrich Merkel, também estudante de Física. Eles se casaram em 1977, quando Angela tinha 23 anos, e se divorciaram em 1982. A futura chanceler, no entanto, manteve o sobrenome do ex-esposo.

Em 1986, ela obteve um doutorado em Química Quântica. Desde que terminara a faculdade e até entrar na política, trabalhou na Academia de Ciências da Alemanha Oriental, uma instituição de pesquisa, em Berlim. Segundo a New Yorker, Angela era a única mulher do departamento de química teórica, “uma observadora atenta dos outros e intensamente curiosa sobre o mundo”.

Muro caiu

Depois da queda do muro, em 09 de novembro de 1989, Merkel se uniu ao recém criado partido Despertar Democrático. De acordo com a New Yorker, aos 35 anos, ela bateu na porta da agremiação e disse: “Posso ajudar?”. E ajudou. Em fevereiro de 1990, ela se tornou porta-voz de imprensa da legenda.

No mesmo mês, o grupo se juntou à Aliança para a Alemanha, uma coalização que contava com a União Social Alemã (DSU) e a União Democrata Cristã (CDU). A coligação ganhou a primeira e única eleição livre da Alemanha Oriental, em março de 1990. O novo primeiro-ministro, Lothar de Maizière (CDU), nomeou Merkel como porta-voz adjunta do governo.

Ela se filiou à CDU e o partido se fundiu à sua contraparte na Alemanha Ocidental, a CDU de Helmut Kohl, em 01 de outubro de 1990, um dia antes da reunificação da Alemanha. Em dezembro, na primeira eleição do país reunificado, Merkel foi eleita para o Parlamento, o Bundestag, então ainda em Bonn, hoje em Berlim.

Kohl, artífice da reunificação, a nomeou para seu gabinete como ministra das Mulheres e Juventude. O então chanceler apresentou Merkel como “mein Mädchen”, ou “minha garota”. Ela passou a ser chamada de “Kohls Mädchen”, ou “Garota de Kohl”. Em 1991, Merkel foi escolhida como vice-presidente da CDU.

Depois das eleições de 1994, com mais uma recondução, de Kohl, Merkel passou a ser ministra do Meio Ambiente. Ela presidiu a primeira Conferência das Nações Unidas para o Clima, realizada em Berlim, em 1995. A primeira COP.

Em 1998, Kohl perdeu a eleição para Gerhard Schröder, do Partido Social Democrata da Alemanha (SPD). No mesmo ano, Merkel foi eleita secretária-geral da CDU e casou com seu segundo marido, o químico Joachim Sauer, seu companheiro havia muitos anos.

Fila anda

Em 1999, a reputação de Kohl e da CDU foi abalada por um escândalo de financiamento de campanha que envolvia doações não declaradas e contas secretas. A “Garota de Kohl” não perdeu tempo e publicou carta aberta na imprensa conclamando o partido a romper com seu antigo líder.

“Agora o partido precisa aprender a andar e ousar travar batalhas com seus oponentes políticos sem seu cavalo de batalha, como Kohl frequentemente gosta de chamar a si mesmo”, escreveu ela. “Nós que agora temos responsabilidade pelo partido, e não muita por Helmut Kohl, vamos decidir como abordar esta nova era”, acrescentou. Em 2000, Merkel foi eleita presidente da CDU, primeira mulher e primeira pessoa não católica a ocupar o cargo.

Embora tivesse vontade de se candidatar a chanceler em 2002, por pressão do partido cedeu a vaga para Edmund Stoiber, da aliada União Social Cristã (CSU). A coligação perdeu a eleição para o social democrata Schröder, e Merkel se tornou líder da oposição.

Navegando crises

Em 2005, porém, ela saiu candidata e venceu Schröder, sendo confirmada como primeira mulher chanceler da Alemanha. Em seu primeiro mandato, após referendos na França e na Holanda terem derrubado o projeto de uma Constituição Europeia, ela se empenhou na negociação do alternativo Tratado de Lisboa, que deu ao bloco suas características institucionais atuais.

Merkel, em 2011,  mudou de opinião sobre a energia nuclear e anunciou o fechamento gradual de todas as usinas atômicas da Alemanha, após o desastre de Fukushima, no Japão.

Uma das principais crises enfrentadas por Merkel foi a da Zona do Euro, a partir de 2010, que se seguiu à crise financeira internacional detonada em 2008. Ela demorou para concordar em socorrer a endividada Grécia e, em 2011, bloqueou iniciativas dos Estados Unidos e da França de promover uma ação europeia coordenada, frente à deterioração das economias de países do Sul da Europa e das ameaças à integridade do euro.

Merkel acabou concordando com um plano para evitar o calote grego por meio do Banco Central Europeu, após pressão de outras nações do bloco e dos EUA, mas a Grécia e outros países endividados foram submetidos a rígidas regras ficais e à supervisão da UE sobre seus bancos centrais.

“Se o euro cair, a Europa cai”, disse ela na época. Apesar da afirmação, sua atuação na ocasião rendeu críticas: de se preocupar mais com seu eleitorado do que com seu lugar na história, de priorizar táticas de curto prazo ao invés de ter estratégias duradouras. “Na Europa, onde a influência da Alemanha é mais importante, a relutância da sra. Merkel em exercê-la é especialmente decepcionante”, diz a revista britânica The Economist.

Contrariou líderes

Críticas semelhantes ocorreram quando da anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014. Merkel não teria sido contundente o suficiente na oposição à ação de Putin. Sua relação com o líder russo continua a ser objeto de desaprovação, e também com a China. A Economist a chama de “complacente”.

A revista reclama que a Alemanha “aconchega-se” com Pequim em busca de vantagens comerciais e dá muito poder a Putin sobre o abastecimento europeu de energia, ao apoiar o novo gasoduto Nord Stream 2, para fornecimento de gás da Rússia à Alemanha.

Em 2015, no entanto, Merkel deu bola dentro ao anunciar a abertura das fronteiras para um milhão de refugiados, em meio a uma crise exacerbada pela guerra civil na Síria, na mão contrária de outros países europeu. Contrariou alguns líderes europeus e despertou a ira de grupos de extrema direita, mas se saiu como heroína internacional.

Mais recentemente, em 2020, marcou outro gol ao adotar medidas firmes para contar a disseminação da Covid-19 logo no início da pandemia, como a suspensão de uma série de atividades e o confinamento das pessoas.

Ela ainda endossou a criação de um instrumento financeiro que permitirá à União Europeia emitir títulos da dívida garantidos conjuntamente. O dinheiro poderá ser usado para empréstimos, mas também em doações, injetando bilhões na retomada da economia pós-Covid e ajudando a viabilizar o ambicioso Plano Ecológico Europeu (European Green Deal), de desenvolvimento sustentável.

De acordo com a Folha de S. Paulo, Merkel fez 533 viagens ao exterior como chanceler e esteve em 89 países. Entre eles, o Brasil. Ela assistiu a vitória da Alemanha sobre a Argentina na final da Copa do Mundo de 2014, no Maracanã, ao lado da então presidente brasileira, Dilma Rousseff. Isso foi depois do inesquecível 7 a 1.