Máquinas agrícolas devem sofrer uma queda de volume de 25,0%, frente às elevadas taxas de financiamento que ainda persistem e dificultam a sua aquisição
O agronegócio compreende uma grande diversidade de segmentos de atuação e elos nas cadeias de valor, e uma análise aprofundada sobre sua dinâmica, evolução e impactos é essencial para o direcionamento de políticas públicas e investimentos no setor.
Dessa forma, projeções mais recentes do Cepea/Esalq/USP-CNA sinalizam que o PIB do agronegócio brasileiro deve alcançar R$ 2,45 trilhões em 2024, uma queda real de 8,5% em relação a 2023, passando a representar 21,5% do valor bruto gerado no país neste ano.
O PIB do agronegócio é segmentado nos ramos agrícola (R$ 1,65 trilhões) e pecuário (R$ 800 bilhões), e também por elos da cadeia de valor: insumos (R$ 123 bilhões), agropecuária primária (R$ 646 bilhões), agroindústria (R$ 591 bilhões) e agrosserviços (R$ 1,09 trilhões), a valores projetados para 2024.
Por isso, no segmento de insumos, projeta-se uma retração real de 18,2% neste ano. Afetada, desse modo, pela queda de preços de fertilizantes (-26,1%), em função da normalização de exportações pela Rússia, após a crise de abastecimento deflagrada com a guerra na Ucrânia.
Cadeias de valor no agronegócio
Projeta-se também uma queda de preços de defensivos de 18,0%, fruto de acúmulo de estoques no período de valorização do real frente ao dólar. Máquinas agrícolas devem sofrer uma queda de volume de 25,0%, frente às elevadas taxas de financiamento que ainda persistem e dificultam a sua aquisição.
No segmento primário, projeta-se queda de 13,0%, pela redução de preços das principais commodities: algodão (-22,1%), café (-9,4%), milho (-21,0%), soja (-30,0%) e trigo (-26,8%), em combinação com queda de produção de importantes culturas, como milho (-15,4%) e soja (-4,5%), frente a reduções de área de plantio e adversidades climáticas (incluindo impactos das enchentes no Rio Grande do Sul).
Contudo, no segmento agroindustrial (com projeção de queda de 5,1%), também há impacto de preços mais baixos nas indústrias de óleo vegetal (-26,8%), biocombustíveis (-25,5%) e celulose e papel (-11,8%), apesar do aumento da produção industrial e a redução dos custos com insumos.
Por outro lado, espera-se sustentação da indústria pecuária, com aumento na produção de carnes e pescados (+14,8%) e couro e calçados (+4,9%).
Movimento de aumento de produção nos elos de insumos, primário e industrial
Em serviços, espera-se uma retração na agricultura (-4,0%), em função da queda de volume de produção em culturas como soja, milho e cana-de-açúcar, que se traduzem em menor demanda por transporte, armazenagem, comércio e serviços adjacentes. Por sua vez, o crescimento esperado de 3,9% na pecuária reflete o movimento de aumento de produção nos elos de insumos, primário e industrial.
Em um cenário desafiador como este, ganhos de produtividade são essenciais para a preservação de rentabilidade dos produtores e agentes na cadeia, assim como a continuidade de investimentos na modernização dos processos.
Por isso, como evidência do potencial de evolução da produtividade agrícola no Brasil, vale mencionar a progressão da produtividade total dos fatores (PTF), que representa a relação entre as taxas de crescimento do produto total e dos insumos, que calculada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Entre 1975 e 2020, a PTF cresceu 400% (melhoria de 3,3% ao ano, contra uma média global inferior a 2% ao ano). Principalmente em função de avanços em ciência e tecnologia, como adoção e modernização de maquinário e equipamentos, e o desenvolvimento de insumos (fertilizantes, sementes e defensivos).
Relativo dos fatores
Ilustrando o peso relativo dos fatores, para um crescimento de 100% no valor bruto da produção entre 1995 e 2017, a participação da tecnologia subiu de 50% para pouco mais de 60%. No mesmo período, as cadeias de valor agronegócio do fator trabalho diminuiu de 31% para menos de 20%, enquanto a do fator terra ficou estável, em torno de 20%.
Como impulsionador do desenvolvimento do agronegócio, o Plano Safra 2024/2025 elaborado pelo Governo Federal contemplou R$ 400,6 bilhões em financiamentos para a agricultura empresarial. Desse valor, R$ 293,3 bilhões são para custeio e comercialização (aumento de 8% sobre o ciclo anterior). E R$ 107,3 bilhões para investimentos (incremento de 16,5%).
Para a agricultura familiar e pequenos produtores, destinados R$ 85,7 bilhões, sendo R$ 76 bilhões destes via Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), 6,2% acima da safra anterior.
Assim, espera-se uma revitalização estrutural do setor com maiores recursos para custeio e investimento, mesmo diante de um cenário de adversidade recente.
Soluções de impacto em biotecnologia (ex.: nanotecnologia, edição de genes, proteína sintética e agricultura celular), automação (ex.: robótica, drones) e análise avançada de dados (ex.: IA, machine learning) devem contribuir para racionalizar insumos, elevar produtividade, reduzir riscos de pragas e eventos climáticos ou desastres naturais.
Na agenda de desenvolvimento, estes são aliados essenciais na busca por maior crescimento e rentabilidade nos diversos elos da cadeia de valor do agronegócio.
Fonte: moneytimes